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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Juventude de Atenas




“Youth of Athens” é apenas o nome de uma exposição.
E a atualidade despertou em mim semelhante urgência quanto o anúncio do último dia...
Da exposição, claro!
Por isso abandonei precipitadamente o trabalho, ainda era quase dia.
Além de que, último dia rima com Grécia!
Em vertigem.
E pressentia algo de grandioso, sem ter a certeza se seria da atualidade ou da história.
Mas “Youth of Athens” é apenas uma exposição pequenina, com um vídeo pequenino de entrevistas rápidas a jovens menos trinta, escolhidos – diria – por acaso
O único múltiplo comum da história é a PlaKa de Atenas, uma Babilónia semeada de prédios brancos sem preocupações de estética, que se contentam – e já não é pouco - em albergar o frenesim da vida grega que, em Atenas, tem uma atmosfera muito kasbah, imagens repetidas do oriente próximo, de Istambul até ao Cairo!
E os miúdos, desfilam perante a câmara, nos terraços de Atenas, emergindo do cogumelo branco, todos com vista explícita ou implícita sobre o esplendor destruído da Antiguidade Clássica, numa pretensa invocação da sabedoria dos deuses passados, mas algo pateta!
Muitas palavras, para tão poucas imagens
E não gostei do prefácio do senhor embaixador e a mensagem desesperada à união europeia “parem de comer os vossos filhos porque não há futuro sem eles
E as entrevistas prosseguiam: a jovem estudante com um bebé que dançava num bar para pagar as contas, um jovem empresário otimista que exportava aplicações para telemóvel, um músico de rua que jurava que vivia onde sempre quis viver, a bióloga que admitia emigrar depois do doutoramento e uma marketeer de piercing no lábio afirmando a sua identidade, história e fidelidade à sua herança.
Sem critério nem coerência especial
(Mas imagens que captavam a atmosfera, sejamos justos)
Todos nós já tivemos vinte anos e faz parte da natureza dos putos de vinte anos serem inseguros, desconhecerem o que o futuro lhes reserva, terem sonhos, terem medos e uma enorme dificuldade em construir cenários de futuros coerentes
Eu já tive vinte anos em Atenas e os jovens de Atenas tinham a mesma tez, o mesmo olhar obstinado, o mesmo idealismo indecifrável, uma mescla não resolvida de sangue ateniense e espartano.
E Atenas era uma Babilónia infernal, como se tivesse atraído para o seu vale sufocante e poluído, Beirute, Cairo e Jerusalém, todas cercando a arruinada (mas fantástica) Acrópole.
Eu já tive vinte anos em Atenas e discutíamos o futuro da Europa como se fosse o último dia e éramos todos significativamente mais pobres.
No terraço dos prédios brancos sem preocupações estéticas, onde dormíamos em monte, debaixo das estrelas e do calor do mediterrâneo. E o chão duro era apenas a recompensa de acordar sobre os terraços da cidade e sentir os cheiros do oriente e o frenesim de um povo em agitação permanente.
E já fui juventude feliz em Atenas!
E (só) conheciam (os) o Drakma, notas coçadas de uma imponência aristocrática, concebidas com orgulho e sem preconceito de ser o berço da civilização ocidental. Mas sem grande valor!
Então porquê intrometer o Euro nesta angústia?
Neste prisma, então teríamos de assumir que já os Romanos comiam os jovens de Atenas. E uma revisão cuidadosa da História, levar-nos-ia a concluir provavelmente que havia outras causas.
(e que os romanos até tinham karma)
Portanto, pequenino este pedaço de realidade.
Prefiro gritos de revolta em grande estilo.

Por isso, esperamos por ti, numa manhã de nevoeiro de Abril, grande Sebastião (Salgado) em Genésis!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Coimbra – Serenata de imaculada irreverência


Segundo distinto orador, a cidade é a grande mãe da língua portuguesa, o berço de uma cultura única (una), a universidade que formou a primeira elite governante do Brasil após independência e, por isso mesmo, responsável por um país uno da dimensão de um continente.
Unidos por uma conceção comum do mundo, unidade de pensamento e de valores, cumplicidade académica inseparável.
Que impediram a disseminação do país irmão!
Uma universidade, um país, um provável feliz acaso que os vizinhos ibéricos não previram e, em múltiplas universidades, retalharam o restante continente em múltiplas, e belicosas, nações de língua espanhola.
Tudo isto, segundo distinto e catedrático orador.
E nós acreditámos, porque gostamos de acreditar que, no agora inevitável e permanente recurso à História, já tivemos algo a ver com o umbigo do mundo, agora que nos começamos a incomodar com a visão estreita que povoou a nossa pequenez a que nos reduzimos nas últimas quatro décadas
Em que, segundo outros, nos limitámos a retalhar a nós próprios, ao nosso pequeno território, saciados com as nossas pequenas conquistas de um consumismo alienado e hipotecado.
 
 
 
2020, é agora a nova data mágica para todos os eventos de um novo mundo em mudança
Tal como 1984, o orwelliano fim da liberdade individual ou 2001, odisseia no espaço ou 2012, o fim do calendário Maia (ou uma apocalíptica previsão de fim do mundo no solstício – inverno ou verão, dependendo da latitude)
Que o 2012 possa permitir que a nova meta civilizacional – apenas marketing de comunicação? – seja atingida.
Na Coimbra, cidade velha, os vestígios do tempo e de uma irreverência que sobrevive ao tempo (três décadas é o que a minha memória de Coimbra, abrange), espalham-se pelas ruelas que circundam a Sé Velha…
Não sabemos se é um bom sinal de resistência da juventude (seja ela geracional ou não), e portanto uma premonição de que a nossa História nos vai inspirar no futuro, ou apenas um testemunho de abandono (repúblicas de vidraças partidas) de uma geração que prefere refugiar-se numa boémia antiga, gasta e folclórica e não desce às avenidas largas das margens do rio, com medo da luz intensa do sol e da água.
 
 
Numa manhã de Coimbra viva, estavam lá todos: os boémios zombies e vidrados de uma geração indeterminada, os distintos e honorários membros do orfeão da cidade, os velhos tocadores de harmónica, os mendigos, os idosos, os miúdos da capa e batina negra de corte moderno e de ousada sobranceria e até os turistas da saudade.
Cá fora (lá fora) uma imensa nuvem cinzenta trazia vento e chuva de Sul, mas ninguém parecia querer interpretar o cinzento como a nossa cor do futuro, ou a perda da visão holística do mundo.
Afinal de contas, o Inverno está a chegar!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mauer Park a juventude inquieta









Na fronteira de Prenzlauer, o parque das ervas que crescem sem que alguém se interesse, a multidão de miúdos empesta aleatoriamente o lugar, feira da ladra no vale e um concerto de rock (concurso de karaoke?) encosta acima, miúdos num senso muito lato, os que brincam nos baloiços e o que (se percebem) estão curvados com o peso dos piercings…de tanto pensar pouco e agir ainda menos.
O entusiasmo é moderado, pelo rock e (provavelmente) pela companhia, porque o sonambulismo alcoólico já predomina na tarde (meia tarde) de Domingo, neste espaço que alguém se esqueceu dele – por ser Mauer ou por ser parque? –
E a descida ao vale é um inferno de quinquilharias sem arranjo – provavelmente o quintal de trás de todos os habitantes de Berlim - mais uma das no man land que pululam entre o centro artificial de nenhuma das antigas cidades.
Sacudido o pó deste encardido baldio de recreação gratuita, procuramos afincadamente descobrir as diferenças entre os artefactos de penduro de origem leste e oeste – uma distracção tão esotérica quanto o local e os seus temporários habitantes – mas não conseguimos.
Em dia de festa semanal, a geração do piercing está totalmente integrada na grande pátria Alemã – mesmo que contra a vontade desta última.