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segunda-feira, 17 de junho de 2024

As vozes da cidade

 


É o teu olhar, a forma como tu encriptas os enigmas da cidade, envolvendo-os em camadas de significados múltiplos. 
Close up focado na primeira linha do horizonte dos elementos congelados pelo tempo, uma flor de cores berrantes, um retrato, um cartaz ou um anúncio de momentos que já passaram ou mensagens que deviam desafiar a vontade eterna, nalgumas outras geografias, especiarias ou legumes com nomes e sabores que não nos lembram nada. 
E todos os movimentos dos restantes horizontes, desfocados como se, na fluidez do movimento, os pormenores e as linhas do rosto dos que não conseguimos tocar, fossem supérfluos para a história que consigo contar. 
Os primeiros planos de Madrid colam se nos postes, nos sinais de trânsito, nas luzes de iluminação pública, e revelam-nos angústia, desespero, grito de revolta, de alerta ou de vitória, porque não há padrão nas vozes de madrid
As mensagens escritas não permitem distinguir a entoação ou a intensidade e muitas vezes são vozes sem dono, uma geração espontânea de anarquia, por impulso. 
Não há padrão nas vozes de Madrid, apenas impulso, seja uma mensagem publicitária sem plano nem estudo de mercado, lugares de parqueamento para partilhar, o último espetáculo de flamengo de um artista obscuro, um show erótico numa cave estigmatizada de um bairro menos recomendável, seja um grito de protesto contra a violência sobre os animais, sejam de companhia, sejam de aviário. 
Mas respira-se uma liberdade sem fantasmas nos pilares da centralidade ibérica, mesmo que a multidão esteja demasiado atarefada para compreender as vozes da cidade.
Sempre com equilíbrio de brancos quente, como se não houvesse nunca Sol no nosso universo



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ben, o graffiter







“ O graffiti é incomodativo, é mesmo anti-social, mas não podemos nunca renegar que esta foi a origem da street art. E não podemos, hoje, renegar esta fase de experimentação, na qual todos nós aperfeiçoámos a técnica e todos fomos perseguidos como perigosos agitadores que assaltávamos as paredes limpas para construir com os nossos sprays o futuro da arte”
De rostos cobertos, não imaginávamos ter, neste futuro que é o presente, de gerir estes dois universos, o ilegal e subterrâneo e a arte e a fantástica qualidade técnica destes jovens.
Hoje vivemos e trabalhamos numa linha ténue que separa o reconhecimento artístico, a indiferença da autoridade e o risco de, uma vez por outra, sermos presos porque alguém aplica a lei.
A arte de rua é a verdadeira faceta vanguardista da arte.
E aqui no bairro, uma pintura na parede dura, em média, algumas semanas, porque há sempre novos artistas e as paredes disponíveis de uma cidade de vidro que nos engole, são cada vez menos
“Where do you come from?”
Singapura, um estágio na City, banca de investimento
“ Detesto os tipos da City, porque não conhecem os limites e não respeitam a História. É demasiado desproporcionado o poder do dinheiro”
O Soho há cinquenta anos, Camden há vinte, hoje Shoreditch, amanhã terra de ninguém…
E a riqueza de Londres sempre foi a diversidade cultural, o melting pot de civilizações que sempre povoaram a cidade, e que foram preservando os bairros e a História, acrescentando-lhe cheiros e sabores, sem retirar a sua essência de centralidade
Não foi o poder financeiro.
Ben Slow, poeta redentor, um artista de rua, famoso no espaço cibernético.
E é neste preciso ponto que a vanguarda do dogma zero se intercepta com as preocupações da formal e poeirenta realeza.
A História
Redentor e surpreendente, o poeta Ben e esta aliança improvável, não estivéssemos nós provavelmente na cidade mais surpreendente e improvável do mundo.
E, ao fim de duas horas de passeio de cabeça descoberta, ninguém foi preso e o visitante de Singapura, foi provavelmente o mais bem tratado pela alternative London walking tours
Pelo Ben.
É por isso que adoro ser Europeu. Só tenho pena de não poder mostrar a sua cara…é que nunca se sabe se os poderes ocultos podem, hoje à noite, querer aplicar a lei, ou o próprio Ben, ao abrigo da lei que protege a sua imagem, ter vontade de me processar.
Adoro ser europeu
Não fosse o diabo tecê-las, paguei generosamente ao Ben. Afinal de contas, ele também mereceu!



segunda-feira, 21 de maio de 2012

A contemporânea fábrica da noite






Lx factory fervilha de onda alternativa
Cheiros, cor e experiencias alucinogénias na noite da fábrica, turno da noite.
Cheira a torradas, sumos de fruta e erva, petróleo dos comedores de fogo, vernizes e lacas, tintas sintéticas, seja cor dos cabelos ou street art, uma nova versão remasterizada e culturalmente aceite do marginal graffiti.
Quando transpomos os portões da fábrica, sentimos a calçada irregular a afundar-se nas poças de uma chuva que caiu tropical e traiu as mini saias e as pernas longas
Armazéns orgulhosamente decrépitos alinham-se nas margens de uma ribeira de pedras reluzentes, despejando desordem criativa em cada canto, reluzentes espaços e sombrios becos em sintonia com todos os seres que povoam a noite e experimentam criatividades exuberantes
Os putos vagueiam na movida, cerveja a preço de moeda comum nas mãos ao alto e o ambiente decrépito chic envolve a atmosfera energética que destrona a chuva e revela pontes entre a arte e o comércio, a música, a dança, tecnologia visual e a expressão dramática.
Entre a ordem e a desordem…
A sofisticação e a arte urbana sem códigos nem acabamentos…como eu gosto!
Não há portas e a entrada é sempre livre, beber ou experimentar o som que compete entre espaços, sem decoração, verdadeiras caves sem mobília e que sobrevivem de tecnologia e de ícones intemporais
A Betty Boop pisca os olhos à multidão, num ecrã levemente avermelhado!
Subimos as escadas a respirar os sons techno que escorrem pelos degraus e, lá em cima, na improvisada pista de dança um casal devora-se em palco, diria que encenavam um tango no seu isolamento sensual…
A noite respira diversidade, de pernas longas a rodas curtas, suave mistura entre a intelectualidade erudita e a beautiful people, gente alternativa e miúdas intelectualmente bem comportadas, sempre calçada acima…
O comedor de fogo entope a ruela e lança um bafo de fogo para a imagem de Betty, cruzando os ares sobre a calçada reluzente e descobrindo um ninho de fêmeas que se beijam sob as nuvens com orgulho e sem preconceito
E a malta não liga
18 de Maio na cidade, Open Night no LX Factory