Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 7 de maio de 2018

A hora de António




Não parece interessar muito que tenha sido construído em 1586 por Filipe, o espanhol, para se defender dos holandeses e dos ingleses, recuperado após o terremoto de 1755, que tenha desempenhado um papel determinante nas lutas entre absolutistas e liberais, que tenha sido regimento do exército até 1915 e, posteriormente colónia de férias do colégio de Odivelas.
O que a multidão comenta nos corredores labirinticos do forte de Sto. António, naquele Domingo de Verão antecipado é das razões, do momento e do local em que o António terá caído da cadeira e, claro, onde está a cadeira?
Mas o forte também se exprime na primeira pessoa, agora desbastado da densa vegetação que o cobria, orgulhoso do fosso em estrela e das vigias penduradas sobre o mar, pintado de amarelo, azulejos recuperados do abandono e da depredação de anos de esquecimento, um exemplar surpreendente da arquitetura militar do século dezasseis.
E as alusões às epopeias marítimas e aos poemas de Camões lembram-nos que o essencial deste forte é a nossa História e as nossas ambições marítimas
Mas ainda se respira o cheiro a tinta, não fosse o 25 de Abril a única data possível,para abrir ao público o forte do António.
Tão simbólico quanto o segredo e a longa ocultação deste espaço desde que deixou de ser útil ao Chefe de Estado e às meninas de Odivelas.
Como se houvesse a necessidade de guardar um vácuo na História, um período de nojo ou os cinquenta anos de ocultação de todos os segredos de Estado.
Fico dividido entre esta tese e a certeza absoluta de que se tratou de um enredo burocrático em que as nossas nobres instituições, frequentemente se enredam.
Os interiores são frugais, pela sua herança militar, pela sua ausência de História recente, mas sentimos que só desta forma se respira a solenidade do espaço.
Vive-se muito bem com o minimalismo das formas no forte de Santo António e com as gigantes almofadas nas quais os quase deslumbrados visitantes se deixam cair a cada escadaria que sobem e a cada corredor que dobram.
Mas o chefe de família que gesticulava num dos pátios interiores do forte, insistia na tese conspiratória, perante uma plateia júnior desinteressada e ausente, afinal de contas o homem caiu da cadeira em 68 e só morreu mais de um ano depois.