Como todas as nossas grandes obras, foi-nos prometida muito antes de haver, sequer, um plano para a terminar.
Há sempre um argumento prático
que nos empurra para uma qualquer explicação plausível, como seja, por exemplo,
se estivermos à espera de ter tudo acabado, então nunca mais teremos nada
pronto.
(E aguardamos ainda o prometido
viaduto pedonal e a cafeteria panorâmica)
Tudo isto pode ser verdade, mas a
ideia de que o dinheiro (ou a sua falta) é o nosso único pecado desmorona-se na
certeza de que somos muito melhores a fazer promessas, do que a cumprir um
plano.
Mas o MAAT 9.0 abriu mesmo no
esplendor das suas membranas metálicas que refletem o rio e o céu e nas formas
harmoniosas de uma onda que se construiu em terra.
(porque uma entrada custa 9
euros, 9.0 é uma alegoria – será metáfora? – sobre o preço que é necessário
pagar por uma visão vanguardista do mundo, será cartel, será vanguarda ou será
utopia de quem assegura, conseguir ver muito para além do tempo, é certamente
uma dúvida mesquinha para quem ainda e
apenas imagina uma vanguarda (web) 4.0 – e preferiria pagar apenas 4 euros – ou
se atreve a duvidar que o nosso futuro estará apenas no vento)
E, num único espaço, o MAAT expõe
seis exposições que encarnam o espírito do manifesto, uma rebeldia quase
insolente para um país que se antecipa (não disse assume) periférico.
Sem vergonha, aliás.
Comecemos pelo edifício. Bom são
e continuarão a ser dois edifícios, facto que deixa a malta – pouca versada
nestas questões de arte e arquitetura contemporânea – um pouco confusa, sobre
por onde começar e o que escolher.
Primeiro, porque existem dois
espaços que não se ligam – e sinceramente a única possibilidade de se ligarem
seria por um acesso subterrâneo, portanto é melhor não arriscar estes terrenos
pantanosos da tecnologia de construção –
Depois o edifício Central não é o
central mas sim a central e o central é o MAAT.
Ainda depois, na central que não
é central, o espaço expositivo é provavelmente maior e (de certeza) tem mais
exposições do que no MAAT.
Finalmente há duas bilheteiras,
uma em cada espaço, que vendem bilhetes para os dois espaços e na bilheteira do
MAAT (o tal edifício central deste novo espaço de contemporaneidade) a fila
(mediana) atravessa a entrada, serpenteia a porta da loja que, virada para o
rio, mas escondida da saída, dificilmente exercerá de forma competente a sua
função comercial.
Mas o que é fascinante na arte
contemporânea (afinal de contas na arte) é a capacidade de ultrapassar os
limites do explicável e do bom senso e surpreender-nos com visões abstratas que
nos obrigam a procurar explicações e compreensões alternativas da realidade e,
de preferência, raramente coincidentes entre si.
A arte não tem de ser auto explicativa, não tem de mostrar
tudo, não tem de ser conclusiva e muito menos resumir-se a conclusões
informativas e os autores – e sobretudo os curadores – não devem procurar
explicar todas as peças, instalações, imagens e ilustrações
Retiram a subjetividade, a margem para opiniões alternativas
e o debate interior de cada um.
E é isto que diferencia – para além
da modernidade, do arrojo e da universalidade do espaço – a disruptiva e
arrojada (antiga) Central do (novo) previsível, paternalista e manipulador MAAT
em que todas as conclusões nos conduzem (quando expomos “as utopias e distopias”
ou a “ordem e o progresso”) a uma trilogia simplista e mediática “ refugiados,
extremismo e populismos e globalização”, encenada no princípio de que a forma
(e os efeitos especiais) deve predominar sobre os conteúdos, e especialmente
sobre os conceitos
Na velhinha e sempre central
respira-se democracia em estado mais puro, porque gosto da ideia da arquitetura
ter dimensões variáveis, de podermos livremente penetrar nas inconsistências do
eu artístico, sem complexos de culpa, e dos deixarem a liberdade para
refletirmos sobre o destino das pessoas, através das imagens de uma camara fixa
e de uma breve introdução descritiva.
Ou mesmo, embrenharmo-nos na
central elétrica e procurar decifrar, entre sombras e luzes coloridas,
provavelmente sem sucesso, as origens e os significados pretendidos da pele
liquida (liquid skin)
O (s) espaços (s) são soberbos.
Mas há aqui uma tendência (uma
linha, diria) ténue que separa o passado (futurista e contemporâneo) de um
futuro moldado pela forma e pelo mediatismo Manga.
Espero que não seja esta a interpretação
de Manifesto.
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