Depois do anoitecer, nos imensos parques de Recoleta e Palermo, as estátuas dos heróis iluminam-se e os heróis da maratona acendem-se com a iluminação pública e correm para a glória e, neste clube do suor e do sprint, a única referência que une a mescla de atletas incógnitos é o fato de licra que liga as gerações, os sexos e uma alucinante vontade de correr.
Sempre ao anoitecer, pelos parques iluminados de Palermo e Recoleta, com a guarda de honra de Bartolomé Mitre, o primeiro presidente de uma Argentina unificada quando os escritores ainda se atreviam a ser políticos, Aristóbulo de Valle, advogado, colecionador de arte e político, Raoul Wallemberg e Mahatma Ghandi, os heróis da paz no mundo, Marcelo Turcuato de Alvear, presidente da Argentina numa altura em que os políticos já eram advogados, Maria Duarte Eva Peron, a diva dos descamisados, todos ao longo da mesma pista
O culto das estátuas é o espelho passado do culto do corpo, portanto tudo encaixa
E no centro da Praça República oriental do Uruguai, bem junto a José Gervásio Artigas, ladeando a embaixada do Chile, de frente para parque Calistenia, a embaixada do Peru e ao monumento ao canto argentino, desvenda-se um oásis de meditação e silêncio recortado nos movimentos lentos e sincopados da uma aula de Tai-Chi, insensíveis ao rodopio da heterogenia dos corredores de fundo, as silenciosas divas espalham karma pela irmandade sul americana