A estação de camionagem tem de refletir as ambições do império, modernidade que funcione, uma atmosfera de diversidade que nunca dorme, um olhar atento sobre os súbditos e uma infinidade de outros microcosmos, como os angariadores comissionistas que desafiam a tarefa impossível de conquistar clientes no próprio local, os vendedores de chocolates especialmente dotados para a inflação e, claro, a personalidade própria e muito vincada de cada autocarro, uma decoração abusada de néon vermelho e de interiores com padrões vistosos.
No interior, os assentos eram confortáveis, a tecnologia era generosa mas intermitente e a lista de músicas abrangeu, numa só noite, todas as tendências da música nacional iraniana, sem descanso.
Atravessamos o Sul que, na escuridão da planície, permitia adivinhar a chama nos poços de petróleo e as luzes das cidades que forravam o horizonte.
E, esporadicamente, o intrépido cavaleiro do asfalto, numa velocidade furiosa que desfocava o néon que descia do para brisas do autocarro, furava os pontos de luz, as paragens técnicas e as do regime.
E o sol nasceu no Sul, em Bandar Abas, com o golfo de Ormuz todo só para nós.
Sem tremer, ao longo de quinhentos quilómetros de estradas e de noite, o nosso caça fantasmas persa deixou-nos onde nós quisemos sair, levantou a sua grossa mão direita, gritou “Merci” , e arrancou convencido que o Sul dele não acabava ali.
Mesmo muito bom. 👍
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