A mesquita de Córdoba é um lugar de confluências
(pressuposto)
E é o que transparece do silêncio filtrado pelas luzes ténues que se
infiltram nos vitrais das capelas e da nave central convertida aos reis
católicos, e que conferem aos arcos mouriscos uma tonalidade indefinida, entre
o laranja exuberante e o rosa subtil
É uma ideia sedutora, porém um
circuito de sinuosas traições e de alianças imprevistas.
Caminhando em círculos, perdemos
a noção da cronologia dos factos porque o que prevalece é a perspetiva
presente, diluída pelos retoques da História.
É um sinónimo de diálogo
implícito, porém à espreita de um elo mais fraco que condene.
A nave central constitui uma intromissão de luz no orgulho do califado,
como que uma vontade explicita de submeter conjunto original a uma nova ordem
triunfal
(não é tanto assim, porque afinal
de contas na sua génese esteve uma capela visigoda)
São moiras de cabelos soltos, e
uma tez escura com sotaques de mestiçagem e, neste domínio não há submissão,
apenas genética.
Os sons de flamengo que sobrevoam a atmosfera exterior confluem em uníssono
para a praça central impregnando as ruelas da judiaria.
(Também eles, judeus, crentes do
mesmo Deus)
Confluência e paixão pela
proximidade, que representam o nascimento de uma nova espécie de Homem.
Apesar de a confluência ser, para
já, um estado efémero.
(as sucessivas e massivas conversões
forçadas constituem todos os epílogos da História, uma significância
estatística)
E a única certeza é a de que, enquanto
houver história, estaremos sempre em suspenso quanto ao final.
Haverá sempre Sultões que se
apaixonam por princesas cristãs em cativeiro e seres que se recusam a demolir o
belo, por amor à arte
(sorrisos)
E, quando pela primeira vez hoje de manhã me apodero da palavra
certeza, porque na direção do meu olhar está indiscutivelmente Meca (é
histórico, porque está referenciado, é geográfico porque está comprovado), este
miradouro da cidade santa do Islão é invadido por dezenas de japoneses que a fotografam
sem pudor e registam que, no confronto das culturas, há sempre uma terceira via:
a da tecnologia em bruto e do sorriso infantil e deslumbrado pelo registo de
imagens.
Ou na esperança de, um dia, se
descobrir um Homem novo.
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