Conhecer os grandes Mughals é um
imperativo histórico. Oriundos do Uzbequistão, no princípio do século
dezasseis, estes persas são os responsáveis pela herança muçulmana da grande
India.
Babur marchou sobre Delhi e foi
coroado imperador do Indostão, e derrotou os Mewar a sul, numa guerra santa
contra os infiéis hindus.
O seu filho Humayun suprimiu as
rebeliões e consolidou o império, perdeu-o para os afegãos e recuperou-o por
acaso.
O pai era obcecado por literatura
e o filho por astrologia e astronomia
Akbar foi coroado com catorze anos
após a morte do pai e não tinha qualquer educação formal, mas foi o maior dos
reis Mughal que reinaram na India entre os séculos dezasseis e dezoito. Não se
apelidava de rei porque o único era o Sultão, apesar de reinar um dos maiores
impérios do mundo.
Construiu uma nova capital, chamou
à cidade dignatários de todas as religiões, incluindo católicos e judeus,
debatiam política e religião no seu palácio, ele o Sol, os outros os astros.
Casou com uma Hindu, eliminou os impostos exclusivos para não muçulmanos e
introduziu elementos da arquitetura local nos seus palácios.
Mas o consenso e a convivência
pacífica entre religiões, morreu com Akbar, em 1605, apesar do império se ter
mantido no auge por mais cem anos de traições fratricidas, de imponência arquitetónica
e de alianças estratégicas.
Aurangzeb, o último dos grandes
imperadores reinou com uma fúria ortodoxa contra os outros povos e religiões e,
tal como previu, depois dele só o caos, entregue numa bandeja aos novos
senhores, os ingleses que, em meados do século dezanove eram os novos senhores
da península.
Mas quando chegamos a Agra
sentimos, tal como em Delhi, uma herança muçulmana tão forte que nem a neblina
apaga.
São os sons do chamamento à
oração, são os túmulos dos grandes imperadores, obras de uma imponência e de uma
riqueza só possível numa terra de pedras preciosas e de imensas histórias de
amor.
E apesar da história da grande península
não ser um conto de fadas e a grande nação hindu que governa a India moderna
não venerar os corpos após a morte, quando caminhamos ao longo destas
magníficas obras do génio humano, respira-se o espírito de Akbar, rodeados de
milhares de seres humanos que festejam os símbolos de grandiosidade do passado,
sem crenças ferozes, com uma curiosidade perante o diferente e um espírito que
lembra a brisa que vem do rio e desvanece o nevoeiro que acorda com a cidade.
Às dez horas na fortaleza
vermelha e ao meio dia no Taj Mahal, não me recordo de ter visto hindus e
muçulmanos, apenas grandes famílias que contemplavam as pedras brilhantes do túmulo
da mulher amada com o mesmo deslumbramento com que nos rodeavam a nós,
europeus, apertando as nossas mãos e fotografando-nos com o mesmo despudor que
nós a eles.
Nos santuários da India muçulmana,
vivem-se momentos fugazes de consenso e curiosidade cultural.
A herança de Akbar!
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