Pela estrada real
fora, evitando os ruídos e de lanternas apagadas, as bicicletas dos quatro ao
anoitecer, ainda com uma pontas de céu avermelhado, sentiam-se os justiceiros
do faroeste e depressa se acercaram do local de combate.
Lá em baixo no charco,
a família de sapos, chapinhava tranquila no lodo húmido do vale, confiantes que
depois do pôr-do-sol não haveriam visitantes indesejados que interferissem
entre as suas compridas línguas e os milhares de mosquitos que pululavam por
todo o lado.
Com um toque no braço
do Einstein, Moshe apontava para o rei sapo, que se pavoneava na pequena poça
de água que sobrevivia ao Verão. “Vocês distraem-no e a gente apanha o júnior,
o gramofone, é para ele que vocês apontam a lanterna”
E o ataque foi
relâmpago. Na desorientação das luzes apontadas nos múltiplos olhos dos
batráquios, cercados pelas sombras do terror juvenil, o Passarola jurava no
rescaldo que eles chocavam uns com os outros, pareciam baratas tontas, e o
juiz, o dono do camaroeiro atacou o sapito, tão atarantado que tinha fugido
diretamente para dentro da rede.
“Já está” – gritou
triunfante – Podemos zarpar
O ambiente no charco
após ataque devia ser dantesco, apesar de ninguém lá ter ficado para contar,
mas também não era preciso, porque a excitação e adrenalina levava cada membro
do bando dos quatro a exacerbar a bravura do feito – afinal de contas tinham sido
quatro humanos contra seis sapos – e rezam as crónicas que o Moshe terá
revelado, no posto de comando, situado no quintal do Passarola, qua as colunas
de fogo subiam mais alto que os montes Golan.
“Não seria antes a
poeira das nossas bicicletas?” – O Juiz decidiu estragar a satisfação do Moshe,
aliás desnecessariamente, porque todos eles sabiam que não havia bombas – nem
de mau cheiro – no arsenal do bando dos quatro, mas uma boa história deve
conter ingredientes especiais.
O Einstein era o único
que se preocupava apenas com os aspetos práticos associados a este rapto.
Enquanto prendia as pernas ao sapo com uma linha quase invisível, “Não
estragues o bicho” – resmungava o Passarola – “Senão não tem piada!”, o
batráquio olhava para ele de olhos bem esbugalhados, sem piar nem se mexer,
“Está vivo?” – perguntava o Moshe, “Sim, bem vivo, e o que fazemos com ele
amanhã?”
Olharam uns para os
outros “Não o podem deixar por aqui à solta no quintal, a tarde toda”
O pobre sapo não
entendia de todo o que se passava, Enjaulado numa gaiola de pássaro, com um
prato cheio de mosquitos mortos à sua frente, encharcado até às entranhas de um
duche de mangueira que deixara este quintal cercado de muros brancos como uma
gigantesca poça de água – na dimensão do sapo, bem entendido – abandonado e
longe da sua família anfíbia, cercado de caracóis e de ervas daninhas, o
batráquio sentiu-se verdadeiramente infeliz. Só as estrelas eram iguais
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