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segunda-feira, 27 de março de 2017
domingo, 26 de março de 2017
MAAT 9.0
Como todas as nossas grandes obras, foi-nos prometida muito antes de haver, sequer, um plano para a terminar.
Há sempre um argumento prático
que nos empurra para uma qualquer explicação plausível, como seja, por exemplo,
se estivermos à espera de ter tudo acabado, então nunca mais teremos nada
pronto.
(E aguardamos ainda o prometido
viaduto pedonal e a cafeteria panorâmica)
Tudo isto pode ser verdade, mas a
ideia de que o dinheiro (ou a sua falta) é o nosso único pecado desmorona-se na
certeza de que somos muito melhores a fazer promessas, do que a cumprir um
plano.
Mas o MAAT 9.0 abriu mesmo no
esplendor das suas membranas metálicas que refletem o rio e o céu e nas formas
harmoniosas de uma onda que se construiu em terra.
(porque uma entrada custa 9
euros, 9.0 é uma alegoria – será metáfora? – sobre o preço que é necessário
pagar por uma visão vanguardista do mundo, será cartel, será vanguarda ou será
utopia de quem assegura, conseguir ver muito para além do tempo, é certamente
uma dúvida mesquinha para quem ainda e
apenas imagina uma vanguarda (web) 4.0 – e preferiria pagar apenas 4 euros – ou
se atreve a duvidar que o nosso futuro estará apenas no vento)
E, num único espaço, o MAAT expõe
seis exposições que encarnam o espírito do manifesto, uma rebeldia quase
insolente para um país que se antecipa (não disse assume) periférico.
Sem vergonha, aliás.
Comecemos pelo edifício. Bom são
e continuarão a ser dois edifícios, facto que deixa a malta – pouca versada
nestas questões de arte e arquitetura contemporânea – um pouco confusa, sobre
por onde começar e o que escolher.
Primeiro, porque existem dois
espaços que não se ligam – e sinceramente a única possibilidade de se ligarem
seria por um acesso subterrâneo, portanto é melhor não arriscar estes terrenos
pantanosos da tecnologia de construção –
Depois o edifício Central não é o
central mas sim a central e o central é o MAAT.
Ainda depois, na central que não
é central, o espaço expositivo é provavelmente maior e (de certeza) tem mais
exposições do que no MAAT.
Finalmente há duas bilheteiras,
uma em cada espaço, que vendem bilhetes para os dois espaços e na bilheteira do
MAAT (o tal edifício central deste novo espaço de contemporaneidade) a fila
(mediana) atravessa a entrada, serpenteia a porta da loja que, virada para o
rio, mas escondida da saída, dificilmente exercerá de forma competente a sua
função comercial.
Mas o que é fascinante na arte
contemporânea (afinal de contas na arte) é a capacidade de ultrapassar os
limites do explicável e do bom senso e surpreender-nos com visões abstratas que
nos obrigam a procurar explicações e compreensões alternativas da realidade e,
de preferência, raramente coincidentes entre si.
A arte não tem de ser auto explicativa, não tem de mostrar
tudo, não tem de ser conclusiva e muito menos resumir-se a conclusões
informativas e os autores – e sobretudo os curadores – não devem procurar
explicar todas as peças, instalações, imagens e ilustrações
Retiram a subjetividade, a margem para opiniões alternativas
e o debate interior de cada um.
E é isto que diferencia – para além
da modernidade, do arrojo e da universalidade do espaço – a disruptiva e
arrojada (antiga) Central do (novo) previsível, paternalista e manipulador MAAT
em que todas as conclusões nos conduzem (quando expomos “as utopias e distopias”
ou a “ordem e o progresso”) a uma trilogia simplista e mediática “ refugiados,
extremismo e populismos e globalização”, encenada no princípio de que a forma
(e os efeitos especiais) deve predominar sobre os conteúdos, e especialmente
sobre os conceitos
Na velhinha e sempre central
respira-se democracia em estado mais puro, porque gosto da ideia da arquitetura
ter dimensões variáveis, de podermos livremente penetrar nas inconsistências do
eu artístico, sem complexos de culpa, e dos deixarem a liberdade para
refletirmos sobre o destino das pessoas, através das imagens de uma camara fixa
e de uma breve introdução descritiva.
Ou mesmo, embrenharmo-nos na
central elétrica e procurar decifrar, entre sombras e luzes coloridas,
provavelmente sem sucesso, as origens e os significados pretendidos da pele
liquida (liquid skin)
O (s) espaços (s) são soberbos.
Mas há aqui uma tendência (uma
linha, diria) ténue que separa o passado (futurista e contemporâneo) de um
futuro moldado pela forma e pelo mediatismo Manga.
Espero que não seja esta a interpretação
de Manifesto.
sábado, 25 de março de 2017
Há lamas no Ribatejo
(No roteiro dos lugares esquecidos ou à descoberta dos
grandes espaços do interior)
Há lugares assim.
Esquecidos dos roteiros da
memória coletiva.
Lugares indissociáveis de
qualquer referência histórica ou acontecimento relevante.
Lugares sem pronúncia.
Tão esquecidos que não conhecem o
sabor da pastelaria em horas mortas (e também nas outras) e onde só o sabor do
café nos mantém ligados ao território dos vivos.
Tão alienados que baixam os olhos
(desconfiança ou temor) e, soturnos, não ousam enfrentar as expressões curiosas
dos forasteiros ou os passos furtivos dos salteadores fugazes.
Nos confortes da aldeia, ainda
pairam as memórias de amores discretos de uma nobreza já defunta, odores de
fumo espesso e aromático, sons de festas distantes que se impregnavam de
vaidade e poder nos veludos e nas carpetes dos espaços de uma vivência quase
feudal.
Nos castelos à beira da barragem,
nas pontes de madeira desmembradas pelo peso de um tempo passado, sente-se a
intromissão do espaço público pelos domínios privados, relembrada pela ermida
do monte, que insiste em acender as velas pelos defuntos da aldeia.
Hoje, sente-se o silêncio da
orfandade perante a partida dos senhores da aldeia, apenas fugazmente
perturbado pelo apetite dos caçadores de tesouros que, por ali assomam, quando
as árvores dão a pele, o corpo e, amiúde, a alma.
No acenar de olhos do casal idoso
que enfrenta a estrada num pequeno trator, no abanar agitado de cabeça “do
ganzado da terra”.
Em nenhures, onde o Alentejo e o
Ribatejo vivem de costas voltadas.
P.S Sim, é verdade que há lamas
no Ribatejo
Pablo, e os exílios dourados
Santiago, 2010
O meu personagem do fim-de-semana foi o Pablo.
Não digo Neruda, porque, se o fizesse,
logo se criaria um auréola romântica que distorceria a verdade do filme e,
provavelmente, quase todas as suas motivações e encantamentos.
Não sou, de todo, um cinéfilo, e
por isso sou um tanto desajeitado com o desenho da forma, com as subtilezas dos
diálogo e até com as mensagens subliminares que abundam no cinema de autor.
Por isso não entendi porque é que
o primeiro livro que Pablo deixou Oscar apreender fosse "As mulheres
quando vão ao zoológico, já não voltam."
Mas, construído sobretudo em
cenários de sombras profundas e de contraluz ostensiva, pareceu-me coerente
Santiago, 2010
Um jogo de pistas
Um bordel heroico, resistente ao interrogatório de um polícia de bigode e ao close up do realizador
Um oficial que seria general sem medo
E mulheres.
Santiago, 2010
São imagens que desfilam num
enredo que nos faz adivinhar o desfecho
Afinal de contas estávamos em
1948, do Óscar, o polícia, não restam vestígios de História e do Pablo, todos o
conhecem pelo poeta que foi apresentado à indolência boémia e parisiense pelo
seu amigo Pablo
Santiago, 2010
Democracias populares efémeras
entre ditaduras nacionalistas de pendor absoluto e um fascínio muito europeu pelas
histórias de exilados sobreviventes.
Neruda, o filme.
Premunição 1973, quando só a Europa permanece livre.
domingo, 12 de março de 2017
Tempo depois do tempo (exposição)
Alfredo Cunha, fotografias 1970 - 2017
"A superfície da História é a política, os poderes, pequenas e grandes decisões, as guerras, os desastres e os conflitos"
" ...Torna-se claro que as afirmações populares, os signos dos partidos, o discurso palpável das multidões, salientando-se nas paredes violadas, começa a substituir o silêncio da presença obrigatória, as procissões, as feiras de gado, as touradas e os dramas coletivos..."
" ... As imagens mostram a luta evidente entre o velho e o novo, a transição difícil, a mudança insegura ganha palmo a palmo..."
"...O olhar é outro, profundamente simbólico, mas perdeu o mito do modelo; são fotografias abertas à percepção do observador..."
" ...Ensaios de desfocagem sublinham a indeterminação de um período onde a verdade das coisas e dos homens se definem pela argumentação e o consenso temporário " - Maria do Carmo Serén na folha de sala
...
Nos limites da Cordoaria, fiquei preso na última imagem e perdi a cor no meu olhar.
Afinal de contas o preto e branco é a perspetiva que melhor capta a desfocagem e a indeterminação.
Primeiro, e obstinadamente contra a luz do Sol que realça as sombras e os símbolos de uma modernidade obsessiva pelo arrojo e pelo lazer...
...e depois, com o Sol vencido pelas nuvens carregadas de ventos vindos do Ocidente, procurando compor, peça por peça, os pedaços de sombra que antecipam o regresso à outra margem, uma espécie de ponte entre o tempo e o depois do tempo
sexta-feira, 10 de março de 2017
Gipsy Kings
A estrada para o Sul é imensa, tanto quanto a
paisagem de uma planície inatingível.
Caminhamos pela Estremadura abaixo e os sinais dos
humanos são permanentes, apesar de predominar o deserto.
Não se vislumbra vivalma nos campos castanhos, esporadicamente
verdes e sempre, quase sempre, de um dourado que sobrevive ao inverno e se
confunde com o braseiro que se antecipa no verão.
Mas a paisagem nunca deixa de ter o toque do homem,
de um personagem escondido que troca a mecanização da agricultura pensada para
a indústria por uma sesta preventiva nas tardes de Sábado.
Eles não se vêm, mas sente-se que estão lá, como a
enganadora sugestão de que um xerez antes de almoço não provoca a inibição nem
sobressaltos na estrada, porque ao Sábado não há polícia que trabalhe.
Mais um engano, a estremadura profunda, a caminho de Córdova,
é pasto de autoridades fardadas que se infiltram na numa fila contínua de
automóveis esporádicos.
A Espanha profunda é uma arte de magia negra,
anunciada pelos touros miúra que fazem as vezes do espantalho rural e que
descansam os locais da intrusão alheia, enquanto estes vivem nas ruas das
cidades, das aldeias e dos lugarejos, como se as suas próprias casas fossem
prisões medievais de alta segurança.
Apenas as famílias ciganas vivem numa espécie de
campo que antecede as cidades, mas nem estes se aventuram demasiado pela
planície adentro, nas mulas velhas e nas tendas encardidas, porque, sabe-se lá
porquê, as terras são dos homens mas não são para os homens.
Exatamente ao quilómetro noventa e oito – a metade do
caminho é a metade e a aritmética é uma métrica perfeita para a constante da vida tão concreta e definida como outra
coisa qualquer – saímos do filme que corre em contramão para trás do nosso
caminho, um quadro de cores esbatidas e quentes, rodeadas de molduras de
um branco espesso pintado num céu de meia estação e tempestades esporádicas e
desligámos por momentos o motor das sensações de embalo.
Do outro lado da estrada, espreita o miúra em pose de
letargia, própria de um bicho solitário de cartão, incapaz de ser o
protagonista das estradas do Sul.
Na berma do caminho, longe do alcance da fera,
descansava uma fonte andaluza que libertava água como quem sua, em pingos
grossos mas aleatórios, tão descentrada do petulante jardim sem folhas, que
apenas podia ter sido construída sem aritmética nem fita métrica.
Por detrás da fonte sem aspirações, residia um hostal
de portadas encerradas, numa lembrança furtiva de um qualquer cenário construído
nas planícies da Andaluzia, para produzir filmes de cowboys.
De mãos dadas com o fantasma, a bodega fervilhava de
movimento, como se toda a amplitude da paisagem andaluza tivesse sido, através
de um grande funil chamado civilização, despejada naquela gigantesca mercearia
de presuntos pendurados, pernis de ossos eloquentes espalhados pelos pratos,
recuerdos de gosto sensível e caramelos descendentes que emolduravam uma
comunidade de figurantes rurais
Cá fora, sentadas na esplanada do país da planície,
elas permaneciam incólumes às distrações diversas e, tal como todas as
protagonistas dos filmes negros das décadas passadas do século vinte, fumavam,
maços de tabaco vermelho espalhados pela mesa, que apelava à hora da coca-cola,
unhas de um vermelho ofuscante, cabelos muito pretos que acariciavam os lábios
vermelhos e as mãos compridas, vestidas de preto do pescoço às ancas, da
cintura ao tornozelo, estes exemplares superiores de uma representação viva da
teoria da evolução.
(Instantânea como a abertura de uma porta)
Vermelho e preto, não estivéssemos nós na terra dos
toureiros
Perante um atrevimento tímido de um forasteiro que
vive do ar do mar, esbofetearam com os olhos um trejeito desdenhoso e
levantaram-se com uma languidez predestinada de quem nasce composta.
As duas.
As pernas alcançavam a berma da estrada e as saias
tão largas quanto curtas não permitiam destrinçar os diversos tons de preto,
apenas as formas.
Viraram as costas e os seus blusões negros identificavam-nas
em letras brancas.
Polícia.
E até a empenada e entupida fonte se centrou no
jardim das folhas mortas.
Agora entendemos porque a fera miúra se mantinha à
distância e temerosa. Como aliás toda uma multidão que se havia refugiado
dentro da bodega.
Como se as protagonistas tivessem secado o local.
E nós não duvidámos um bocadinho que fossem agentes
de uma autoridade suprema.
Até a criança nos lembrar que hoje era Sábado de
carnaval.
Mas nunca se sabe.
Afinal de contas a Espanha profunda é pura arte de
magia negra.
Heranças.
domingo, 5 de março de 2017
Dona Gema se hay enamorado del Sultan
O nome dela é Gema, Dona Gema
Capturada pelas tropas do Sultão,
adormecida pela solidão da berma do caminho, Gema foi, segundo alguns
cronistas, o princípio do fim da soberania indiscutível do velho guerreiro.
Seriam os seus olhos, os cabelos
que lhe escorriam pelos ombros ou antes a sua fragilidade cristã desprovida de
ambição, que enfeitiçaram as barbas brancas e a longa idade do Sultão, isso,
ninguém sabe.
Ou ninguém, alguma vez ousou
questionar.
Exceto o velho sábio, provindo
dos confins do Egito que, conhecedor de todas as ciências ocultas, particularmente
a magia, assegurou que, se o talismã indicava perigo é porque esta mulher é uma
feiticeira que usa as suas formas sedutoras para enganar os incautos.
Mas o guerreiro que aspirava a
paz celestial nos famosos jardins do Irão, só tinha ouvidos para o silêncio da princesa
cativa e da sua lira de prata pendurada sobre o seu generoso decote.
Gema reuniu uma corte de admiradores eventuais à porta do Palácio e
contou-nos a sua história, a do velho sábio que se propôs construir um jardim
mais grandioso que o do Irão, tão extraordinário e inexpugnável que ninguém, do
lado de fora, o poderia ver.
A princesa católica iria escrever a história num tempo futuro, a do
astrólogo mágico que haveria de conceber este palácio rodeado de fortalezas
inexpugnáveis e com jardins interiores, ricos e luxuriantes.
Invisível aos olhos dos mortais, protegidos por uma chave e por uma
mão, poderosos talismãs carregados de uma magia oriunda dos confins do Egito
Mas a princesa católica tinha o
dom de enfeitiçar os homens, porque enfraqueceu o coração e as defesas do velho
sultão e deixou-se raptar pelo astrólogo para o enfeitiçar, nos confins da sua
caverna, até à eternidade.
O Sultão morreu acossado pelos
inimigos e os habitantes locais não encontraram nunca, nesta colina, nada mais
que um terreno ermo e escabroso.
Até ao dia do Juízo Final ou
quando a mão que segura a chave desfaça o encantamento que foi lançado sobre
esta colina.
Gema mantem uma versão diferente da construção do palácio, a história
de Alhamar o fundador do Alhambra, numa época em que o grande Califado se
confinava à exígua Granada, longe vão os tempos do esplendor expansionista da
grande nação moura.
Terá sido o último dos sultões unificadores do que restava do Império,
mas o primeiro que rendeu vassalagem ao Rei Fernando
E construiu o Alhambra, uma fortaleza vista de fora, um retiro
construído para dentro, para deleite e segurança de mais duzentos e cinquenta
anos de presença árabe na península.
Gema, a princesa católica sem
nome registado,
Gema, a guia intérprete do Palácio de Alhambra.
E ela, a nova Gema, calou-se e eu finalmente percebi o encantamento do
Sultão lendário, ou de Alhamar, o fundador do Alhambra por esta colina.
O fascínio do silêncio, das águas
límpidas que parecem nascer de todos os aposentos e jardins deste magnífico
lugar, da floresta verdejante e dos tons alaranjados que submergem a paisagem,
por onde quer que poisemos o nosso olhar
E os gatos sonolentos que se
enroscam ao longo da porta da Justiça, que são os espíritos do velho astrólogo
que imaginou este lugar, antes mesmo de se tornar visível aos mortais.
A sedução de uma lenda reside,
afinal de contas, na insignificância dos detalhes históricos.
Para Carlos V, o novo
conquistador católico, tristes aqueles que perderam tudo isto, para o último
Sultão, a vergonha da retirada sem resistência, em 1492, e a humilhação da mãe
que lhe terá acusado de se ter comportado como uma mulher na defesa do que lhes
pertencia
O resto é História
sábado, 4 de março de 2017
Confluências
A mesquita de Córdoba é um lugar de confluências
(pressuposto)
E é o que transparece do silêncio filtrado pelas luzes ténues que se
infiltram nos vitrais das capelas e da nave central convertida aos reis
católicos, e que conferem aos arcos mouriscos uma tonalidade indefinida, entre
o laranja exuberante e o rosa subtil
É uma ideia sedutora, porém um
circuito de sinuosas traições e de alianças imprevistas.
Caminhando em círculos, perdemos
a noção da cronologia dos factos porque o que prevalece é a perspetiva
presente, diluída pelos retoques da História.
É um sinónimo de diálogo
implícito, porém à espreita de um elo mais fraco que condene.
A nave central constitui uma intromissão de luz no orgulho do califado,
como que uma vontade explicita de submeter conjunto original a uma nova ordem
triunfal
(não é tanto assim, porque afinal
de contas na sua génese esteve uma capela visigoda)
São moiras de cabelos soltos, e
uma tez escura com sotaques de mestiçagem e, neste domínio não há submissão,
apenas genética.
Os sons de flamengo que sobrevoam a atmosfera exterior confluem em uníssono
para a praça central impregnando as ruelas da judiaria.
(Também eles, judeus, crentes do
mesmo Deus)
Confluência e paixão pela
proximidade, que representam o nascimento de uma nova espécie de Homem.
Apesar de a confluência ser, para
já, um estado efémero.
(as sucessivas e massivas conversões
forçadas constituem todos os epílogos da História, uma significância
estatística)
E a única certeza é a de que, enquanto
houver história, estaremos sempre em suspenso quanto ao final.
Haverá sempre Sultões que se
apaixonam por princesas cristãs em cativeiro e seres que se recusam a demolir o
belo, por amor à arte
(sorrisos)
E, quando pela primeira vez hoje de manhã me apodero da palavra
certeza, porque na direção do meu olhar está indiscutivelmente Meca (é
histórico, porque está referenciado, é geográfico porque está comprovado), este
miradouro da cidade santa do Islão é invadido por dezenas de japoneses que a fotografam
sem pudor e registam que, no confronto das culturas, há sempre uma terceira via:
a da tecnologia em bruto e do sorriso infantil e deslumbrado pelo registo de
imagens.
Ou na esperança de, um dia, se
descobrir um Homem novo.
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