Após quatro dias de chuva, o Sol
invade a cidade
Finalmente.
Outra vez!
Não somos de todo um povo dado a
nevoeiros prolongados nem dilúvios profundos.
E a moral hoje, entre as nuvens e
uma manhã quente e húmida, do Sol que sopra para cima das nuvens, é incontornável.
Lisboa, que voltou a ser a cidade
das cores magníficas do casario velho despejado sobre o rio, dos milhares de
seres que invadem a Praça do Comércio de calções curtos e mangas cavas, numa
peregrinação aos bons ares e à mentalidade cândida de uma capital com quinze
graus acima do hemisfério norte.
E na subida para o arco, o bafo
húmido de um dia de mudança climática interfere com a velocidade do elevador,
encarquilha ainda mais a escada de caracol que nos conduz ao mecanismo, o
protagonista do salão nobre da Augusta.
(fará funcionar o sino ou o relógio, ou ambos,
sempre com um minuto de avanço, uma preciosidade do relojoeiro de utilidade
pública, preocupado com os transeuntes que não podem perder o barco para a
outra margem)
Os poucos turistas que se
aventuram escada acima, sem semáforos nem sinais de prioridade, fazem ecoar os
seus passos nos tectos altos de pedra robusta, num som que serve de compasso ao
sino que vai tocar, sempre de maia em meia hora.
O cão, espécie Lulu, conduz pela
trela duas gaulesas, escada acima sem as largar, nunca saberemos se presas
pelos incontáveis adereços argolados e presos em todas as cavidades menores, ou
apenas pelo entusiasmo de levitarem em direcção ao terraço, e ao ar de Outono em
tons de azul e cinzento.
(Terá o espécime de quatro patas
pago ingresso?)
E lá em cima, sem grande
companhia, a vista é, no mínimo, redentora, e a sensação de exclusividade
compara-se à de um Imperador (porque não Augustus) que contempla um Império, um
exército e um imenso povo que se espraia na praça em tons de prata.
E nem Lulu ladra nem a multidão
exulta.
Olhando a cidade do topo do Arco
da Rua Augusta é contemplação em estado puro!
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