Budas, pagodes, jardins japoneses e dragões espalham – se ao longo de um vale primorosamente relvado, numa revelação Oriental do benfeitor, em terras saloias do Oeste.
Integrado numa quinta vinícola de planícies e encostas
soalheiras, o parque revela-se nas suas traseiras como a última extravagância
do benfeitor, ainda com as acções em alta.
Chegar à Quinta dos Loridos pela manhã cedo é uma
experiência desconcertante porque falta o roteiro, uma contextualização
histórica e geográfica ou uma harmonia narrativa, apesar das explicações no
site oficial.
“O Buddha Éden
Garden é um espaço com cerca de 35 hectares, idealizado e concebido pelo
Comendador José Berardo, em resposta à destruição dos
Budas Gigantes de Bamyan, que foi, um dos maiores atos de barbárie cultural,
apagando da memória obras-primas, do período tardio da Arte de Gandhara.
Em 2001,
profundamente chocado com a atitude do Governo Talibã, que destruiu,
intencionalmente, monumentos únicos do Património da Humanidade, o Comendador
Berardo deu início, a mais um, dos seus sonhos, a construção deste extenso
jardim oriental. Prestando, de certo modo, homenagem aos colossais Budas
esculpidos na rocha do vale de Bamyan, no centro do Afeganistão, e que durante
séculos foram referências culturais e espirituais.”
E a paz reina, de facto, nesta manhã cinzenta de meio de
semana, sem visitantes de monta, em torno do lago espelhado, do verde dos
campos e de uma enorme quantidade de estátuas que pretendem sintetizar todas as
geografias de um Oriente milenar num espaço contíguo e alcançável pela vista
humana.
Desconcertante o esforço de síntese do benfeitor porque,
se a legião de guerreiros (de terracota?) evadidos da sua cova, perfilados na
encosta perante o lago e o pavilhão (chinês / japonês) são uma alegoria rica em
cores e em interpretações livres, nos sentimos incapazes de integrar o
significado dos Budas que rodeiam a paisagem, o lago, o pavilhão chinês, e os guerreiros
de terracota, para além de outras interpretações de arte moderna ocidental que
ocupam os espaços livres de vista privilegiada.
Desconcertante e de valor artístico (por vezes) limitado.
É verdade!
Mas algumas das peças de arte contemporânea que começam e
imergir entre as obras que ainda não terminaram em novas zonas do parque
realçam o esplendor do parque e da relva.
Apenas não sabemos porque estão ali!
Esta Ásia de miniatura que, cada vez mais, se aproxima do
Ocidente contemporâneo é provavelmente um local de união de culturas –
independentemente de detalhes como a coerência expositiva ou do contexto –
Rodeados de vinhas e sobreiros, nesta experiência de elevado teor psíquico, celestial e de reflexão
interior (não fossem as moscas que nos atacavam, vindas dos campos agrícolas em
redor) que promete um dia vir a ser um espaço de Land Art com assinatura.
Assim os guerreiros de terracota permitam!
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