No Torre Poente – o mais próximo
do mar da fuga e/ou da descoberta – reside uma exposição que destila História e
(quiçá) desbrava novo prelúdio da verdadeira vocação lusitana:
A última fronteira, o porto de
refúgio, o fim do mundo segundo a lógica geográfica (e cartográfica) chinesa!
Aos Indignados que acreditam na
nossa vocação atlântica, esta exposição lembra que o Atlântico não deixa de ser
vocação quando de fuga se trata.
Aliás não terão sido as
Descobertas (como todas as aventuras no desconhecido, afinal) uma fuga (para a
frente, é verdade) da estreiteza de uma Nação pequena?
Importante afinal, é estarmos
debruçados sobre o mar, entre o fim de um Continente e o princípio do resto do
mundo Ocidental, e esta Exposição lembra-nos que as desgraças dos outros são a
nossa Luz.
“Chegamos à Praça do Rossio, o
centro de Lisboa. Magnífico! Só quem vem de um país numa escuridão total, onde
à noite é preciso andas pelas ruas a tatear o caminho, pode apreciar o que
viemos encontrar, quando às duas da madrugada sentimos jorrar sobre nós aquela
iluminação mágica das luzes na praça” - Karl O. Paetel
A chegada.
A cidade
A preparação para a Guerra
Os correios
A espera
As luzes na cidade
A informação e propaganda
O paraíso dos espiões
À procura de um visto
A partida
São doze salas de uma crónica de
brandos costumes, enquanto o mundo se partia em cacos, à nossa volta.
Perdoem-me a insistência, mas
hoje, as nossas receitas turísticas aumentam com o despertar da loucura dos
homens na bacia do Mediterrâneo.
Não fossemos um país pacífico,
pobre e pequeno (a teoria dos três P da diplomacia internacional) e poderíamos,
hoje, ser acusados de foco de destabilização regional
Mas afinal de contas a nossa
única arma e razão de existência é a surpresa para os povos atormentados do
mundo.
Tão nobre quanto desbravar novos
mares desconhecidos, com uma obstinada vocação do Ocidente.
“ A Lisboa afluía tudo o que pôde fugir dos
alemães, na Europa. Toda esta gente parou aqui, onde começam as ondas do mar” –
Milos Tsrnhanski
Meu caro, chega de querer
reinventar a História até porque, em 1940, todos fugiam de alguém e a última
imagem de Alfred Doblin da nossa cidade era celeste e imperial:
“O navio levantou âncora na
escuridão da noite, Lentamente foi virado e rebocado Tejo abaixo. A exposição do
Centenário resplandecia como num conto de fadas, à nossa passagem. A sua mágica
luminosidade foi a última imagem que tivemos da Europa envolta em luto.”
Sangue frio e Portugal no seu
melhor!
Além disso, perdoem-ma a
insolência e desculpem-me o humor negro, mas hoje Lisboa não é de todo um bom
sítio para quem lhes pretende fugir! (*)
Torreão Poente, Terreiro do Paço,
2013
(*) Se algum dia tiver um cargo público e algum repórter tendencioso da
vida pública, usar esta frase contra o meu nome, argumentando xenofobia e falta
de sentido de solidariedade europeia, argumentarei sempre que se trata de
poesia e o “lhes” tem um sentido poético lato, metafórico e sem destinatário
preciso.
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