Vistadomme desce o vale estreito
a um ritmo descontrolado de mais de 20 km/h.
E o vale estreita e
aproximamo-nos das paredes de uma vegetação mais densa, adivinha-se a selva
amazónica por detrás dos picos, para onde o rio urubamba se despenha, ora
alargando ora encolhendo, conforme o espaço que a montanha lhe concede.
Os rápidos não desarmam, uma
ansiedade irreprimível de chegar ao grande rio Amazonas.
Vistadomme desce ao ritmo da
música espiritual andina e persegue a corrente do rio, sem êxito.
Na última curva do rio, águas
calientes espreme-se no fundo de um entroncamento de desfiladeiros, como uma
terra de múltiplas fronteiras: a selva amazónica, a cidade perdida nos cumes
inacessíveis e o caminho de fuga de um dos últimos “ultimo” inca em direção a
villacamba nos seus exílios lunares, enquanto o seu mundo de bronze se
desmoronava a sul e a norte, a leste e a oeste e nascia um mundo de um só deus…
A linha férrea semiabandonada que trespassa o vale e o povoado entre pizzerias, lojas de souvenirs e hostels de mochileiros, submergindo a estrada inexistente, que já se afundara no vale sagrado recorda-nos que, depois de águas calientes só resistem os bravos do pelotão!
Bom, consideremos que esta é uma
visão fantasiosa, mas reconfortante.
Enquanto habituo a minha visão à
baixa altitude (afinal de contas estamos a pouco mais de 2,000 metros) e à
agitação multidireccional (porque vem de todos os lados, culturas e latitudes)
despejada em rápidos de seres humanos à procura de um momento de comunhão sobrenatural
com a mãe natureza, invadem-me perigosas alucinações.
Vindo da selva, escapa-se primeiro
um rasto de fumo a sobrevoar os telhados de zinco (uma gata nos telhados de
zinco?), depois a aparição de um longo e ruidoso comboio a abarrotar de
madeiras preciosas, culturas tropicais, indígenas e metais preciosos, que
invade o fundo da rua dos souvenirs, e se aproxima velozmente da nossa visão
grande angular…
E ninguém parece estranhar…
Um fantasma (será a sua
transparência, sinónimo de imortalidade?), de manco inca pulverizado de ouro,
chapéus altos e tecidos garridos, puxa do apito, impassível mas obstinado, rio
acima em direção ao vale sagrado.
Começou a subida alucinante para
a cidade perdida!
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