O lago Titicaca é a origem de
todos os povos andinos – dizem-nos!
Um enorme depósito de água doce (eu
era capaz de jurar que tal extensão teria algo de salgado) a 3,800 metros de
altitude, rodeado de picos gelados, desertos secos e tórridos, é motivo que
explica (per si) o seu papel civilizacional.
Hoje sobram comunidades que vêm o
lago como se fosse o oceano pacífico, tamanha a sua distância do mundo costeiro
e cosmopolita. Comunidades que se banqueteiam de turistas que procuram os
últimos mundos perdidos…
Mas, para além do folclore
dispendioso, os Uros vivem mesmo em casas flutuantes e, mesmo que o artesanato
não seja deles, viver dentro de um lago é … estranho!
E nas margens e nas ilhas do lago, é a terra que os alimenta – e não nós.
Mas quem manda no lago, nas
margens e nos montes bolivianos, lá longe a oriente, são os Aimaras: dois
milhões à volta do lago, quatro milhões no altiplano.
Derrotados pelos incas, hoje
falam num país novo e até já têm um presidente, o boliviano (de acaso) Morales.
Hoje de manhã, quando saímos no
bote de 13 nós, lago adentro – jumento capaz de transformar um lago num mar,
também para nós, marinheiros – vimos sobretudo um azul profundo do céu e da água,
tão profundo que dói.
Não sei se é da altitude, ou da
forma como a altitude nos enlouquece com as histórias de lendas sobre as
origens e os povos desta mãe andina, mas as cores são tão profundas quanto
duais: azul-escuro da água e branco do céu e dos montes bolivianos da
cordilheira oriental, azul claro de céu e cor de terra árida do altiplano.
A manhã dócil e a tarde ventosa e
ondulada…
Lenda ou História não escrita – e
portanto eventualmente real – estas são as cores do mistério.
Mistério!
Esta é a sensação repetida desde
que subimos acima dos três mil metros.
Mistério e civilizações que
adoravam a natureza.
Visitada a esta distância, não vejo
como eles não poderiam deixar de ter razão!
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