Lima é a cidade dos Viracochas e,
quem sabe, uma afirmação de modernidade de um país. Deuses que viriam do mar…e
vieram
Lima é a cidade dos reis brancos,
barbudos e malcheirosos que desconfiavam da mística Cuzco, demasiado grandiosa
e sobrenatural
Portanto, incontrolável
No credo en brujas, pero que los hay, los hay
Nove milhões de almas que se acotovelam
nos bairros populares em gigantescos mercados grossistas
Cidade das brumas, fenómenos
meteorológicos que lançam capacete sobre a cidade, que devia ser tropical, mas
não é, pelo menos mais de seis meses por ano!
É bizarro, o equador tão perto e
os caprichos das correntes marítimas, e o pacífico oceano que se empurra de
encontro aos Andes transformam, esta amálgama de metrópoles tão latinas e tão
sul americanas numa distinta urbe, tão britânica quanto a neblina permite, qual
chapéus de coco que estranhamente povoam as ruas poeirentas dos mercados de rua
e que se equilibram, quais trapezistas entre o infernal burburinho desta
cidade, sem caírem sequer!
A vingança nativa (incas e os
seus incógnitos ascendentes) serviu-se retardada e definitiva.
Oitenta por cento do povo é
mestiço!
Sol e Lua, oposto e complemento
em três estágios de vida: ave, puma e serpente
Cidade das crenças que, em dia de
procissão da Nossa Senhora das Dores, se revela de uma profunda religiosidade
que leva multidões às ruas, magotes que se deslocam a pé dos bairros pobres,
distantes e inacabados para um centro que, se encolhe porque estranha, no seu
abandono e despovoamento crescentes, o movimento e a alegria dos crentes,
pobres mas crentes!
Não estamos habituados a ver
tanta fé em povos que (foram, de forma musculada convencidos a mudar de..)mudaram
de Deuses há menos de quinhentos anos, de tez inca, mestiça ou índia.
É uma nota disfuncional na
paisagem, mas que é perfeitamente coerente com todas as notas invulgares que
povoam a cidade.
Nada se ganha, nada se perde, tudo
se transforma!
Símbolos religiosos, impregnados
nos mantos cristãos, através da mãe natureza
Não há barbudos e malcheirosos
espanhóis a atravessar as húmidas brumas de uma manhã tão cinzenta, mas tão
colorida porque a cor é aqui, e em todo o país, o Perú intenso!
Mas a Praça de Armas é uma
afirmação do poder espanhol que resiste teimosamente à desertificação do centro
da cidade, uma auréola de edifícios coloniais gastos pelo tempo, pelas
revoluções e pela ascensão do poder revolucionário subversivo e clandestino
Em seu redor, expande-se uma
cidade caótica, cuja inexistência de infraestruturas empurra milhares de
carros, motos e combies (pequenos autocarros independentes) para uma dança de
desfecho sempre incerto, em que a prioridade é concedida a quem for o último a
parar. Sem ofensas, como se as buzinas apenas prestassem honras ao mais
destemido dos guerreiros do trânsito.
Saindo da Praça de Armas em direção ao mar e a sul, percebe-se que coexistem nesta larga extensão de casas quase térreas, vários destinos de um mesmo povo.
Saindo da Praça de Armas em direção ao mar e a sul, percebe-se que coexistem nesta larga extensão de casas quase térreas, vários destinos de um mesmo povo.
As grandes migrações dos anos
noventa, a pobreza extrema dos sem raízes, aqueles que já foram integrados
dentro dos limites da cidade e os que se espraiam pela pan-americana à espera
de entrar;
Os bairros de classe média, com
quintais vedados, e um espaço de garagem ao ar livre onde param os automóveis
de família, gastos mas dignos;
A frente Pacífico com bairros a tocar
o glamour e com uma gastronomia de fama e eleição, espraiam-se os soprados pela
riqueza e pelo crescimento económico de seis por cento ao ano, abençoados pelo
poder e pela pátria
Mas não se chegam ao mar: as
arribas de Miraflores espreitam o mar mas deixam a marginal, lá em baixo, para
os surfistas e para quem quiser, numa espécie de zona livre porque afinal o mar
(porque não há sol) quando nasce é para todos.
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