Entre cordilheiras só sobrevivem a altitude e imensidão dos elementos.
Imagens de um dia bem acima dos
4,000 metros que foi esgotando a nossa energia, quilometro após quilometro (em
altura e em distância) em visões que alternavam entre o lunar surreal e os
nevados vulcões sagrados das civilizações pré-incas
As imagens confundem-se com os
sons andinos que, no silêncio de uma estepe de montanha sagrada, irrompem na
nossa memória em flautas e violas, porque o criador deste filme panorâmico
imaginou-o com banda sonora
Os picos gelados têm som, cheiro
e paladar…
Pura magia dos (todos) sentidos!
A 4,900 metros, atingimos o cume
da nossa existência breve, Patapampa reserva-nos esse troféu numa varanda de
oxigénio debruçada sobre os vulcões, oito magníficos espécimes que nos rodeiam,
a nós e aos milhares de oferendas à deusa da montanha, feitas de pedra
Pedra sobre pedra, perdemos o
fôlego, mas preferimos pensar que a magia é mais forte que o mal de altitude…
Hualka Hualka, Ampato, Sabancaya, Chachani,
Misti, Picchu Picchu e Mismi
Tudo isso!
Arrepio, mas preferimos pensar
que a comoção (comunhão com a natureza e a presença aos pés – melhor, joelhos –
da energia sagrada dos montes brancos) é mais forte que o frio andino que nos
varre
Visões de uma natureza sagrada.
Aterrámos no fértil vale do colca
dos terrenos cultivados em socalcos, varandas de pedra com uma diversidade de
culturas, própria de quem aprendeu a sobreviver, muitos anos antes de os
espanhóis terem chegado.
O império do milho e do têxtil do
seu próprio gado: os lamas as alpacas, as vicunhas e os guanacos e alternado
entre os domésticos e os selvagens.
Em Chivay – depois do altiplano,
o vale – entendemos que a alpaca também se come, e que o guisado é, afinal de
contas, apenas um guisado!
Aconchego carnal de um estômago
colado à desoladora beleza do altiplano.
(num lapso de segundo, fiquei com
a mesma sensação da criança que se apercebe que o fofinho coelho também se
come, apenas um lapso de segundo)
Na capital da província, aterra
também o vale, o mercado lembra-nos que para lá do altiplano mora gente, e uma
diversidade surpreendente de gente e de agricultura.
E sempre a trilogia Deus (agora o
católico plantado na praça de armas – sim, outra vez), natureza (elementos) e
sobrevivência (o mercado, a terra e os animais)
O banho de águas quentes e
termais, noite dentro e no vale (agora mais) profundo, consagrou a comunhão
entre nós, humanos, e os deuses da montanha.
Mas àquela hora não havia virgens
para sacrificar, nem sacerdotes que nos encomendassem aos deuses dos cumes
gelados
Que os deuses da natureza nos perdoem
e não nos lancem a sua ira!
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