Em pleno terceiro ciclo de vida
da urbe (do Império, do País?) – terá começado com o regresso dos papas ou com
o renascimento tardio?
A nova Roma, a Roma dos dois elementos, nasce
com o renascimento adiantado e integra a recuperação do elemento antigo com a
sumptuosidade luxuriante do barroco
É o que consta dos relatos e o
que ressalta dos passeios na cidade habitada e cosmopolita
A intrigante coexistência do
(profundamente) religioso e do pagão (o culto da beleza e do corpo) nos últimos
séculos, é um acontecimento pleno de êxtases e arrependimentos, revelações, equívocos
e algumas sórdidas vinganças.
Mas salvo acidentes e algumas
adaptações convenientes - daí as estátuas nuas sem sexo nos corredores do
Vaticano – a obra dos artistas do novo renascimento da cidade é a essência da
arte compreensível e completa, a modernidade anunciada que se respira nas
igrejas, nas piazzas, nos lugares de culto ou exaltação pagã.
Michelangelo, Bramante e Raphael desbravaram
a nova era por entre a indefinição de estilos de uma cidade que olhava, soturna
para o passado, e Bernini soube render guarda aos poderosos mecenas e as suas
exuberantes obras prolongam o fulgor dos mestres do Renascimento, com um toque
muito (barroco) especial
Assim nasceram pedaços da nova
Roma, os retalhos da vida de um turista na cidade.
No Campidoglio, no alto dos
capitolinos, encrostado entre o fórum e o monumento a Vittorio Emmanuel (uma
extravagância fora de época, muitos séculos depois numa nova, e fugaz, tentativa
de construção imperial) …
(Porque é fascinante alimentar a
ideia de que a cidade se (re) constrói permanentemente sobre ela própria, por
camadas de História…)
Nas fontes da Navonna, entre o
bairro judeu, o panteão – obra mágica de céu à vista, de dia e à noite – um rio
que se confunde com as origens de Roma, e na vizinhança das sedes do poder…
Em S. Pedro, não somos
surpreendidos por um toque de barroco demasiado especial que confunde os
sentidos com os compromissos apostólicos e artísticos a basílica centro do
catolicismo ocidental …), desbravado muito mais tarde por avenidas
“mussolinicas”…
Pela Via Sistina adentro até
Trinitá del Monte, escadarias abaixo em direção à Piazza di Spagna, navegando
na Fontana dela Barcaccia pelos mares de luxo da Via Babuino até ao Popolo (igreja,
praça e a porta da cidade), uma praça quase perfeita de formas geométricas e de
simetrias cheias de significados misteriosos…
E os locais de culto sucedem-se,
independentemente das hordas de turistas acidentais, ruidosos e, por (muitas)
vezes incapazes de entender o sentido mais espiritual das obras e das crenças
de um povo.
Sim, porque as referências são
quase impossíveis de abarcar num roteiro, numa visão panorâmica, ou numa
superficial visita com tempo contado, porque Roma não se esgota numa unidade de
tempo / dia.
Mas os heróis do terceiro ciclo
têm uma vantagem preciosa: não experimentaram a decadência e a derrota, viveram
numa Europa de bárbaros domesticados (ou convertidos)
Foi só criar nos espaços vagos
Por isso os génios da arte andam
à solta na citá!
Sem comentários:
Enviar um comentário