Oásis de silêncio nas traseiras
do fórum imperial, numa manhã de calor abrasador em que as memórias sobrevivem
na solidão dos passos perdidos, das pedras renascidas das mãos dos arqueólogos.
Sem multidões, as paredes intactas
do mercado contam-nos a História sem pressas, interferências com sotaque ou
contadores de histórias profissionais: só nós e a perceção sensorial do
passado, salpicado, quase de forma não intencional, por peças genuínas, recém-descobertas
no subsolo intocado do mercado e fórum de Trajano.
Bustos, estátuas, colunas e
lápides, sem ordem precisa mas com significados próprios.
Silêncio e memória!
Provavelmente porque aqui não
houve imersão em banhos de sangue nem superproduções, nem mesmo gladiadores em
discurso direto
Apenas mercadores e comércio, uma
vertente pouco heroica e pouco convencional da antiguidade romana
“The most exciting city-center
roman ruins”, segundo os colunistas da atualidade
Deambulando pelos corredores,
subindo e descendo escadarias corroídas pelo tempo, abraçando as vistas
desafogadas do fórum, a partir das varandas milenares e vagueando o olhar pela
serenidade deste lugar, simplesmente sentado numa qualquer pedra com uma
profunda perspetiva histórica…
Tal como a visão se habitua
gradualmente â escuridão, os espaços redescobrem-se à custa de olhos
estremunhados.
Primeiro temos a visão do espaço
grandioso e milenar; depois apercebemo-nos das peças expostas com o orgulho de
uma descoberta recente; subitamente, entendemos que novas artes se intrometem
no nosso angulo de visão – duvidamos, antiguidade desconhecida ou modernidade
consentida - sublimam e realçam a envolvente e, finalmente, absorvemos as
intenções dos artistas e a sua cumplicidade criativa com os arqueólogos.
Novos olhares e interpretações
contemporâneas da Antiguidade, os novos tons da modernidade romana, são uma
forma diferente de elevar a Antiguidade ao estatuto de arte contemporânea
Segundo o manifesto do artista,
compara o passado, o presente e o futuro olhando para simples utensílios como
copos, pratos, garrafas
“…Objetos simples obedecem a um
ritmo lento, quase geológico…”
O artista confronta a arqueologia
romana com a arqueologia do futuro
E o espaço renasce por ele mesmo,
numa visão deliciosamente não convencional dos monumentos romanos
É como se a Antiguidade pudesse
ser viva, soubesse dialogar com o presente numa milagrosa inversão do paradigma
absoluto (do passado) da cidade, aquele que apelava à reconstrução devoradora
em camadas sobre as (à custa das) ruínas (sobre ela própria)
Aqui, nada se constrói à custa de
nada
Nada se cria nem se destrói, tudo
se funde com a solenidade de um Templo submerso em Deusas fotográficas que
espreitam das paredes numa descoberta surpreendente da intemporalidade do
espírito (e da criação) humanos.
Meio-dia, nas traseiras do Fórum
Romano!
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