Ao redor de Santiago, o Norte vive a proteção das montanhas e o tempero do mar.
Nesta bolha de geografia, ainda circulam nos vales apertados dos picos da Europa, a profundidade da militância basca e as raízes celtas da ruralidade galega, mas o que persiste é a rudeza dos elementos, aquilo que o vento não leva e que o mar não traz.
No museu de Belas Artes de Oviedo sente-se o peso da tradição numa das “melhores exposições de pintura moderna e contemporânea de toda a Espanha”, é um desfilar de rostos castigados pelos elementos, de paisagens intensas de cor e das interrogações que a nova arte nos coloca e nunca responde.
É um facto histórico que nas Astúrias habitaram os únicos habitantes da península ibérica que nunca foram mouros e também é um facto que a Sidra, mais do que uma bebida é o símbolo da identidade de um povo, tanto pela abundância de maçãs como pelo seu processo de fermentação
Um povo antigo, com a experiência de vida que só os séculos concedem, que venceu os mouros na batalha de Covadonga em 722, e que vive em permanente redenção desde que tomou contacto com as primeiras relíquias de Jerusalém, uma afirmação de fé desde 792 DC. E da monarquia das Astúrias e da defesa do Reino Cristão.
E a paisagem verde e toldada de nevoeiros que persistem na altitude dos picos concede-lhe uma auréola de mistério e de ordem mística que persiste mesmo no âmago da atividade industrial e mineira da província, tal como o povo é antigo também as industrias são velhas e decadentes, de uma revolução industrial já passada, e questionamos amiúde se é o misticismo que nasce do nevoeiro se a nostalgia que nasce do fumo.
Ou, se calhar, apenas os traços Celtas do povo.
Quando o nevoeiro levanta, a cidade revela-se por ordem da Real Academia, pelo mecenato da Princesa das Astúrias e dos seus prémios à arte e cultura, uma forma quase altiva de afirmar os símbolos dos primórdios da Cristandade como os patronos da cultura no mundo.
Enquanto percorríamos a muito eclética rota das esculturas em que se mescla a história, a cultura e atividade económica da região e também Woody Allen, um premiado honoris causa por conceder cinco minutos de fama à cidade e, claro, sempre em destaque a irreverente Mafalda que, quanto mais não seja, assenta arraiais na cidade para questionar o porquê de todos os outros.
E de dentro da Arca Santa, emerge o nono céu em Oviedo, oito associavam-se às sete esferas planetárias e à esfera celestial, o oitavo céu corresponde à vontade Divina e ao destino das almas, o céu mais próximo daquele em que está apenas Deus, o Nono Céu.
Mesmo com uma fé imensa, o sabor amargo, o cheiro azedo e o chão pegajoso da Sidra Asturiana não permitem decifrar se é Astrologia ou Mitologia.
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