O palácio - eles intitulam se de castelo, mas é um palácio - Peles (também não tem peles, só madeira e não é conhecida a origem do nome) é muito popular, especialmente entre os de jovens estudantes que invadem os aposentos reais.
Bem, a maioria percorre os corredores de cabeça baixa e só a levantam para esticar o braço e a respetiva câmara por cima das nossas cabeças contornando a ombreira das portas e registar metodologicamente as dezenas de divisões e antecâmeras da única referência real que vale a pena recordar.
Precisam de uma prova paternal de respeito pelos fundadores da pátria.
A monarquia romena nasceu tarde e foi deposta cedo, por isso é estranho que o mobiliário do palácio de verão da realeza seja tão contemporâneo e esteja tão pouco usado, afinal de contas não podia ser de outra forma, é verdade que a monarquia na Roménia é sinónimo de independência, de uma certa modernidade e até de democracia, mas foi tristemente prematura, porque o único rei que governou com uma noção de estado, foi o primeiro, a monarquia foi deportada durante o terceiro reinado, e o segundo foi um déspota (aliás deposto por um general tão déspota quanto Carol II e, ainda por cima, fraco avaliador do futuro que entregou a nação aos russos devido a uma desastrosa aliança com Hitler.
Mas foi Carol I quem construiu este castelo de verão e os interiores são revestidos de uma madeira escura que não esconde as preferências do Rei pelas dinastias germânicas mas inspira confiança porque há um equilíbrio, quase austero, entre os locais de reflexão e de estudo ou patrocínio das artes e os de ostentação, que alimentam o imaginário inatingível pelo povo, e a manifestação do poder, medido pelo peso do cristal de Murano que paira sobre a cabeça dos hóspedes ilustres.
E verdade que, quando a aristocracia romena passou a ter estatuto de reino, já a maioria das antigas casas reais europeias se preparava para sucumbir às guerras e à República, por isso sobrava a Carol I o espírito de missão
Mas para as centenas de putos que invadiam os corredores do castelo de Peles, os aposentos dos reis, a extensa biblioteca e os diversos locais de trabalho, espalhados pelos três pisos do palácio, são apenas os diversos cenários de um compêndio de História, nos tempos - que eles julgam longínquos - da desastrosa Europa das nações.
E eles são a primeira geração de paz que a Roménia permitiu que nascesse, e os primeiros que conseguem - sem riscos de omitir o essencial - tornar uma selfie, vital.
Entretanto, o estado devolveu o palácio à família real, mas a princesa Margarida preferiu continuar a gerir o património imobiliário, a partir da Suíça
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