Adormecer em Moscovo e acordar em St. Petersburgo é uma mudança de perspetiva
A cidade está povoada de símbolos e
estátuas do classicismo, do ocidente ambicionado, das artes e da cultura russa,
da aristocracia czarina, longe da influência do povo e da Rússia profunda
Acordámos em St. Petersburgo e, no
final do dia, é possível sentirmos a Rússia a se entranhar, especialmente para
nós, que não nos conformamos com uma visão única e coerente da vida das
pessoas.
Enquanto nos espraiávamos sem destino
pelas margens de um rio que reclama os créditos de um mar e nos sentíamos
incapazes de julgar o forte de Pedro pelo seu tamanho, passámos a acreditar que,
para haver um todo é necessário cultivar, pelo menos, duas visões
contraditórias da mesma realidade.
Como se fosse importante que Pedro
tivesse criado uma pausa na História da Moscovia, da ortodoxia continental,
como se procurasse mudar o paradigma de um país perseguido, do exterior e do
interior transferindo-se a si e a ambição naval para junto do mar.
SP é isso mesmo, uma pausa na
afirmação oriental da Rússia, ou a única forma de imposição ao ocidente de uma
nova potência mundial e das fronteiras ocidentais diante dos polacos e, sobretudo,
dos suecos.
Por isso aqui as margens nunca se
tocam, as pontes reconstroem o sentido que cada uma das ilhas teve na
construção dos diferentes períodos da história, um império que transfigurou o
seu rosto num aventureiro e o seu espírito numa paixão pelo classicismo
ocidental.
Nas cúpulas da Catedral do Sangue
Derramado, nas ameias do forte de Pedro, no alto da estátua de Pushkin, nas
entranhas de um armazém invadido pelas obras de Bansky ou à mesa de um
aconchegado restaurante caucasiano.
Também eles a meio caminho entre
Moscovo e Helsínquia, a imagem da última ceia da noite anterior.
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