Em S. Petersburgo sopra o vento do
Báltico, que se infiltra nos canais ao sabor dos impulsos do inverno polar e
das investidas da história, concebidas de memórias nórdicas e de fascínios
ocidentais.
Em S. Petersburgo, a mãe Rússia
manifesta-se com a timidez de quem sabe que não controla o destino dos filhos
resgatados de forma tardia a uma outra genética
Quando nos confrontamos com a cidade
que ainda esfrega os olhos de sono percebemos que, para lá das paredes austeras
da gare central que ainda marca moscovo com bola vermelha no centro do mapa dos
caminhos de ferro, existe uma nova alma cosmopolita que desafia, na geometria dos
antigos traçados, as heranças do passado recente.
Pressente-se na ausência de pressão
alta dos taxistas da estação, na arquitetura quente dos interiores forrados de
madeiras, luzes indiretas, cestos de laranjas, vitrines redondas que envolvem os
scones de sabores, uma ardósia que desenha em cirílico exemplar, as sugestões
de pequenos almoço, mesas e bancos de madeira corridos, reminiscências
estéticas do bom gosto e do minimalismo escandinavo.
E, no silêncio da internet sem fios, sobressai
o direito à individualidade, os momentos de introspeção que se refletem nas
vidraças do outro lado da rua, nos edifícios da universidade que jazem no tempo,
submersos por árvores que estendem os ramos como raízes e atestam a permanência
do saber.
E, sem surpresas, embalamos entre a visão
da magia dos universos rurais de Kundera, e das novas dimensões tecnológicas do
conhecimento, e nem nos apercebemos que esporadicamente os estudantes falavam
uma linguagem local.
Os ventos do Báltico serpenteiam as
avenidas e as ruas da Petrina, mas respiram-se as correntes de ar sem complexos
de culpa, mostrando que é possível harmonizar a coexistência de ambientes e
experiências, sem subtrair nenhum dos elementos essenciais da história.
É verdade que a primeira impressão é
sempre efémera – e voltamos às referências de Kundera – mas SP revela, nesta
manhã fria, mas cheia de sol, arrojo e mensagens subliminares, depois do
dilúvio moscovita.
Começando pelo nome.
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