“A alma do conhecimento não conhece fronteiras”
O iluminismo árabe contrariava a idade das trevas,
que reinava a Norte.
Nas madrastas e nas bibliotecas reuniam-se estudiosos
oriundos de todas as partes do Mediterrâneo que partilhavam escritos e
conhecimentos.
Medicina, filosofia, astronomia e estudos religiosos
Traduziam-se os clássicos da Antiguidade Grega e
procurava-se a verdade entre Islâmicos, Cristãos e Judeus, conscientes da sua
origem comum.
Nos mercados não se trocavam apenas produtos, mas
igualmente ideias.
E provavelmente criavam-se os mitos, oriundos de
todos os confins do império, cobertos pelas vestes brancas que apelavam aos
silêncios do deserto.
(os Almóadas usavam ostensivamente a religião para
legitimar um projeto político)
Do Sul, vinha o ouro que lhes permitia cunhar moeda
para o mundo inteiro, uma atividade tão lucrativa quanto evangelizadora porque
continham mensagens claras “não é aceite que alguém professe uma religião que
não o islão”.
Não havia fronteiras naturais que desfizessem em pó o
poder de quem sabe manipular o ouro.
E, nestes tempos, os impérios construíam-se de Sul
para Norte, como se o Sul representasse as profundezas da terra o Norte do
Atlas e do Mediterrâneo os verdes prados deste florescente jardim berbere.
Não havia justiça sem monarca, monarca sem exército,
exército sem impostos, impostos sem riqueza, riqueza sem justiça, a grande roda
da exuberância do império.
E apesar dos momentos sublimes da História dos povos
não terem normalmente finais felizes ou prosperidade infinita, há elementos
comuns que explicam a supremacia das culturas.
Pragmatismo, uma grande curiosidade pelos mundos
diferentes e uma roda que os alimenta.
Curiosidade não necessariamente confundida com
tolerância, e a gestão habilidosa destas subtilezas é provavelmente uma das
poucas heranças berberes que perdura na sociedade do Marrocos moderno.
(pressuposto muito arriscado mas em dá muito jeito
acreditar)
Os Almóadas caíram em 1269, tal como a utopia de uma
civilização com uma origem religiosa comum.
Duzentos anos depois, o Renascimento cristão
apoderou-se dos clássicos e a norte do Mediterrâneo ergueu-se uma nova
fronteira religiosa.
Marraquexe tornava-se numa capital pequena e
intermitente.
Vista de cima, a Jemaa El Fna – a assembleia dos
mortos – até parece que a História não mudou.
Mas, à medida que o entardecer se torna mais
compacto, entendemos que o conceito de diversidade mudou de sentido.
Mas não deixa de ser místico.
Sem comentários:
Enviar um comentário