Estamos diferentes, a diáspora não é mais o único
reconhecimento exterior.
Somos um lugar de novos encantos, uma centralidade
periférica
É verdade que muita da nossa essência tende a
perder-se na incessante procura de transformar as nossas tascas de hora de
almoço em vizinhanças elegantes de uma nova baixa de hotéis de charme, com
subida de preços incluída e a inevitável perda de mão e de sentido prático das
velhas cozinheiras de província.
Ninguém explicou à pouco cordial nova gerente de loja
trendy chi(o)que que o arroz de polvo ao almoço, pressupõe um polvo previamente
cozinhado.
É indiscutível que já começamos a tropeçar nas nossas
próprias pernas e somos frequentemente abalroados por óculos de sol em malas
portáteis e ementas fotocopiadas em cores berrantes, vestidas de marinheiros de
boinas à banda e um sotaque gorduroso.
Mas ele balbucia, diante de uma surpreendente
resposta com sotaque lisboeta, como se fossemos irmãos e companheiros de
calçada, desculpa lá incomodar, afinal de contas é pressuposto todos nós sermos
solidários na arte de bem vender o país sem os danos colaterais que a excessiva
exposição solar pode causar ao turista.
Longo vai o tempo do experimentalismo dos teóricos do
MIT que, nos primórdios de oitenta, utilizaram o mundo como território de
experimentação da recém-descoberta teoria das expetativas, assim uma espécie de
bálsamo construído em espiral que garantia que, se continuássemos a acreditar
muito, a felicidade transformar-se-ia num furacão de prosperidade.
Hoje o conceito é mais transversal, não tem
conotações liberais e foi libertado das universidades para as ruas através de veículos
anfíbios, trotinetes elétricas e autocarros descapotáveis.
É um belo princípio, penso eu, enquanto troco olhares
cúmplices especialmente com dois casais de alemães que esperam pacientemente uma
hora, e duas garrafas de vinho verde esvaziadas de dentro de um balde de gelo
depois, por quatro pratos de sardinhas assadas com batatas fritas.
Nós os nacionais, abraçamos a cultura na feira do livro, pedimos autógrafos às dezenas de autores portugueses que publicam e escrevem sobre o mundo sentados em cadeiras de esplanada, comemos bolas de Berlim com creme e trazemos para casa uma dúzia de garrafas de uma espécie de refrigerante levemente alcoólico, aconchegados entre os sacos de livros e os carrinhos de bebé.
Conceptualmente, é o resultado da globalização em tons de bronze
"Oh Lisbon, you have a f...wonderful light"
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