Um dia, 09 de Dezembro, duas perspetivas, os símbolos e a essência, três elementos envolventes, o rio, o castelo e o casario ingreme e gasto, quatro bairros da cidade antiga, Graça Alfama Mouraria e Bairro Alto
Christmas `Eve é uma história de Natal, desenhada a dois ao
longo de um mesmo percurso, partindo de visões individuais que, a cada momento,
se transformam em dípticos que nos confrontam ou complementam na dicotomia
entre a ideia de símbolos e da essência, duas palavras – e, mais do que isso,
conceitos – que nos lembram o Natal.
Os símbolos são manifestações abstratas de uma ideia ou de um
conceito, um elemento representativo que materializa numa realidade visível,
algo não palpável, uma realidade invisível.
A essência é o que constitui o ser e a natureza das coisas, o
caráter distintivo, puro, subtil e a ideia principal.
E quando, a pretexto do Natal, confrontamos os nossos
diferentes olhares (afinal de contas partimos de duas ideias diferentes)
descobrimos que as nossas imagens unidas por momentos, expandem a nossa visão
individualista sobre o que nos rodeia, expressam a diversidade da nossa
vivência e atenuam os significados das palavras.
A diversidade exprime-se na escolha dos objetos e das opções
estéticas
O miúdo que olha para os símbolos com uma veia eclética, não
há fronteiras estéticas ou morais entre o Pai Natal que procura subir à janela
e as obras de arte urbana que lhe lembram épocas festivas, e as suas imagens
adquirem vida própria especialmente através da vertigem dos prédios inclinados,
das ruas ingremes, dos sinais ostensivos, tirando partido dos elementos, diria
mais, submetendo (submissão dos) os símbolos aos elementos envolventes, o rio,
o castelo e o casario, desafiando os observadores a encontrar as subtis
singularidades que apelam a uma época especial, pois raramente uma época tão
efémera se sobrepõe à paisagem do quotidiano que molda os seus habitantes, que
ele prefere manter atrás das janelas do bairro.
O velho olha para a essência através de uma estética mais
convencional, condicionando os elementos envolventes ao elemento principal, as
figuras e as pessoas, enquadrando-as em cenários horizontais, planos e sem
dinâmica própria (nem vertigem) percorrendo, um por um, os diversos imaginários
de um Natal clássico, a árvore de natal, os sapatinhos das prendas, a presença
dos avós e o sorriso das crianças, a religiosidade do momento e os reis magos,
os cartões de boas festas, os heróis do fantástico e o circo. Sem se intrometer
demasiado na modernidade da arte (a não ser na figura de Pessoa que, afinal de
contas, bem podia ter sido o quarto rei mago) E até o bacalhau.
Mas o velho não consegue evitar a dualidade. É uma forma
convencional de fazer frente às subtilezas do miúdo. E a dualidade, do ponto de
vista do velho exprime-se, com algum desencanto, na solidão envolta em todos
elementos principais da história, nos avós que arrastam as suas sombras,
indiferentes aos sinais do meio envolvente, nas figuras que parecem sempre
querer desaparecer na paisagem, nos movimentos apressados que parecem não ter
tempo para prolongar a festa, para além de um momento efémero. Ou dos postais
de natal que nunca chegamos a enviar.
É apenas uma forma de afirmar que o Natal também é a época
dos esquecimentos perdoados.
E o velho concorda com o miúdo, que só se capta a essência
quando isolamos aqueles nano segundos de felicidade efémera e os conseguimos
congelar no tempo para, de seguida, os representarmos sob uma forma que nos
permita disfrutá-los.
Quando conseguimos isolar, e depois perpetuar, as nossas mais
profundas lembranças.
Que não é, de todo, diferente da ideia dos símbolos
Por isso mesmo, quando confrontamos as nossas visões,
equilibramos os olhares entre as pessoas e a sua envolvente e reduzimos as
diferenças entre o significado de símbolos e de essência.
Atenuamos o significado
das palavras e expandimos as nossas perceções.
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