Ontem à noite seguimos o Pai
Natal e as nove renas na sua viagem à volta do Mundo, através de uma
sofisticada aplicação alimentada pelos satélites da NASA e por uma IMENSA
imaginação.
(Corredora, Dançarina,
Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e uma nova, Rodolfo, a rena que tem
o nariz vermelho, capaz de ver através do nevoeiro)
Tudo muito real, o número de
presentes entregues, a sua localização precisa e uma velocidade quase furiosa
com que se desloca entre os locais, as cidades e os países, nos minutos que
antecedem a noite de Natal.
E não julguemos que o Santa se
desloca, em órbitas precisas como se de um satélite se tratasse.
Em Santorini às 10:33, em Istambul
às 11:01, em Colónia às 11:32, em Basileia às 11:35, em Marselha às 11;45 e,
logo a seguir em Bilbao (ai que ele vai entrar pelo Norte) e, puro engano,
Barcelona, Madrid, Tarifa (ai que ele vai entrar pelo Sul) e, puro engano, às
11:55h atravessou o estreito e deslocou-se para a Tunísia.
Desapontados pela redentora
lógica ibérica do Pai Natal, convencemo-nos afinal que, com 3,9 biliões de
prendas entregues e registadas, que este roteiro não passava de uma construção
de cinematografia animada dos infantis americanos.
Às duas da manhã, lá voltámos a
espreitar e, com a Empinadora na frente (e muito nos rimos da consoada), o cortejo do Santa atravessava o
Oceano em direção à América prometida, sobrevoando com desdenho a cidade de
Ponta Delgada.
A essa hora, já o Capitão Von
Trapp, um bando de crianças geniais e a Julie Andrews atravessavam a fronteira
da Suíça a pé, pelos Alpes verdejantes de Verão fugindo dos abomináveis nazis e
seus bonecos de neve.
Sem rasto da Heidi e do seu avozinho,
afinal produção japonesa de um após guerra longínquo.
Na rua da noite da véspera de
Natal uma velhota resmungava à porta do café contra um saco de plástico
abandonado ao vento, “lá dentro pagam dez cêntimos e cá fora deitam-nos para o
lixo, deve ser gente rica” e amorfanhava o saco para dentro da carteira, um
mecânico de rabo-de-cavalo, grandes pretensões e uma enorme falta de jeito (apenas
ultrapassada pela humildade inexistente) forçava um pequeno farol fundido, com
um braço enfiado na roda da frente e um bando de cegonhas a rir da sua
imbecilidade, que se resolveria com um macaco e com uma chave de fendas.
Mais gratuito que o saco de
plástico, mas tão sucateiro quanto um toque de midas não podia ser.
E o Sol desapareceu entre o fumo
das chaminés (prova superlativa de que não há Pai Natal) cheiros a comida
intensa e um vento cortante de Leste que nos fez lembrar um enorme suspiro de
alívio da grande mãe natureza por finalmente o Natal estar a chegar.
E a partir.
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