Se eu fosse ela, habitante de Dubrovnik e guia de pretensão,
eu começaria por nos contar a História de Ragusa
“ Meus amigos de um grupo pequeno, eu hoje vou-lhes contar a
História de Ragusa. Quinhentos anos de uma quase independência muito esforçada,
uma democracia que lembrava os Governantes no Palácio de Rector, impresso na
pedra, esqueçam as preocupações pessoais, preocupem-se com os assuntos
públicos, uma cidade cercada de inúmeros inimigos geracionais, sempre geridos
por uma diplomacia de alianças e muralhas inexpugnáveis, uma armada que chegou
a proliferar marinheiros onde a diplomacia e o comércio eram a razão para a
sobrevivência”
Bom, mas isso sou eu, ela tinha um bico que se confundia com
um nariz de pardal, mas em grande e faltava-lhe anos e eloquência para dizer
numa frase, uma única só, o nome de todos os invasores e povoadores que por
aqui andaram, antes de Napoleão. Sim porque Napoleão é importante.
Gregos, Romanos, Bárbaros, Húngaros, Venezianos, Mongóis,
Otomanos, Austro-Húngaros e sinto que me esqueci de alguns, convidados ou
infiltrados.
Só Ragusa, a Dubrovnik Libertas sempre resistiu até que, num
ousado golpe de diplomacia, Napoleão anexou esta colónia que, de tão antiga,
esquecera a sua origem composta de Eslavos convidados pelos Romanos de
Constantinopla e os Latinos residentes, provavelmente a prova de que o Império
já tinha sido Ocidental.
Todos os peixes morrem pela boca!
A noite quente da véspera testemunhava a coerência de um
governo que soube atrair os talentos nascidos nos povos vizinhos e manter fora
das fronteiras os indesejáveis – mesmo que por vezes aliados – conquistadores vindos
de longe.
Duraram cinco vezes mais que os incas e metade do tempo do
país mais antigo da Europa: Nós!
Na manhã seguinte, junto ao istmo que quase corta a
península de Peljesac pelo umbigo, descobrimos uma maravilha desta república em
Ston, a ponta da maior muralha da
Europa, reconstruída recentemente pedra a pedra pelo orgulho Croata, porque
apenas a guerra moderna – demasiado moderna – a destruiu, e a destruição veio
do céu.
Mas o que persiste são cinco quilómetros de muralha, que une
as pontas do istmo, e protegeu durante anos o sal de Ragusa, das invasões de
todos os piratas que a ameaçavam, uma moeda de troca e uma absoluta necessidade
de sobrevivência.
Nesta grande península de fronteiras que são os Balcãs,
Ston, como Dubrovnik, são extraordinários momentos de História
Muralhas e fronteiras como meios de preservação.
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