Montenegro tem de tudo para ser
uma espécie de país. Abençoada pela grande mãe sérvia, agora amputada dos seus
braços de mar – é que para ser país nas Balcãs, é imprescindível ter a sérvia
como, no mínimo, desconfiança – seiscentos mil habitantes, uma dimensão que
cabe na mão direita de um sérvio deitado ao Sol nas praias rochosas de Budva.
Maja, a nossa amiga de Montenegro
sorriu, dividida entre o desdenho pela ignorância do Homem Safari, e o
comprometimento por terem emprestado aos sérvios umas milícias para atacarem
Dubrovnik:
- Não, nós não fomos
bombardeados. Estávamos do outro lado (a referência à Croácia era evidente)
A miúda também era, na altura,
demasiado nova, por isso não chegou a corar.
Vermelho de vergonha ficou o
Safari, um elefante de focinho de suíno, calções beije de explorador, óculos de
aros grossos tão pretos que lhe borravam a cara de medo sempre que lhe levavam
o passaporte para uma das inúmeras fronteiras que povoam a península.
Indefinido o sotaque, o pavor
descontrolado revelava-nos a mais do que provável nacionalidade – americana.
Vinte por cento do país
percorrido numa manhã.
Permanece, para meu mistério
pessoal, porque que raio se tornaram independentes, sem guerra e quinze anos
depois de ter acabado a Jugoslávia.
Órfãos da mãe pátria, adoptaram o
mesmo presidente, desde a independência, mau grado os rumores que circulam nas
poucas notícias virtuais sobre o país, de que o senhor já se envolveu amiúde em
algumas nuvens de corrupção e participação em ilícitos de diversa ordem.
Em Budva, e ao longo da faixa de
terra à beira-mar plantada, demonstram a entusiástica adesão ao capitalismo do
dinheiro sem cor e sem cheiro e a ambição reflectida nas placas em cirílico,
penduradas nas varandas das centenas de edifícios e condomínios em construção,
de vender a costa Adriática em postas, aos russos da nova ordem.
Mónaco Oriental, sussurram os
iates de luxo que se acotovelam nas insuficientes plataformas de atracagem e as
meninas vistosas, apreciadoras de rublo forte, que pululam à porta das novas
discotecas ao ar livre.
Enfim, um mimo!
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