O
inverno é psicológico, esta é a filosofia de surfista! Nada no ambiente
envolvente nos remete para um qualquer spot famoso; sol, calor, biquínis ou
mesmo ondas torneadas
Absolutamente
nada me faria pensar nas dezenas de golfinhos humanos das cristas geladas do
mar de Leça que espreitavam por cima de uma espuma cinzenta, um mar que se
adivinha baço e opaco como o Inverno que se encrespa nas ondas de principiante
lamacento.
O
desolador areal amarelado e abandonado à agreste nortada de um tempo impio,
contrasta com a agitação marítima, confusa e sem nitidez, escura como o mar de
breu.
Deserto
e Oceano, atravessar o deserto para atingir o mar.
Com
os pés afundados nas pegadas frescas da areia solitária, faço contas de cabeça
e procuro os mais rebuscados simbolismos na indómita profecia bíblica.
As
duas facetas, dia e noite do mesmo fim de tarde
Sem
purgatório, diretamente da areia para as trevas, a escolha dos donos das
pranchas é inequívoca
As
muralhas do porto impedem que as ondas fujam para o abrigo sereno.
Se
calhar é por isso que há surfistas em Leça!
De
volta à terra firme, sem areias movediças nem rochas, as luzes do farol
indicam-nos um caminho mais seco e seguro!
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