Cheira a
couves cozidas no centro da cidade, odor que se sobrepõe ao fumo das castanhas
que se assam em avançado Março nas bermas dos passeios, esquinas da baixa,
portas da estação de S Bento. Há rostos sofridos mas genuínos, populares sem
sofisticação urbana, como se toda a ruralidade do país se reunisse naquela
praça. Um destino final de dezenas de anos de migrações, um interior que
desaguou na foz do rio, na cidade das oportunidades.
Nem os
turistas que apontam as câmaras para as paredes de azulejo varrem as memórias
dos cestos de vime que se deslizam desajeitadamente dos trens a vapor, escadas
abaixo, olhares assustados de passados marcados, futuros incertos!
Num mundo
que vivia a preto e branco, as merendas eram a ultima ligação ao espaço de
conforto, no fim da linha, no fim da rua.
Paira na
alegoria do trânsito confuso, uma sensação bizarra de que há seres que ali
deambulam há anos, para absorver as saudades das origens, de um lugar que
verdadeiramente nunca chegaram a conhecer senão em memórias juvenis
incompletas, como se o túnel de S.Bento fosse uma máquina do tempo que os
transporta para uma ilusão sem retorno.
Hoje a
cor é cinzento, pelo passado preto e branco e pela espera persistente mas sem
esperança,
O
elétrico chamado Carmo desce de costas os Clérigos em direção ao rio, a praça e
porque não (todos os rios desaguam no mar) para o mar.
Amarelo
na manhã e nos tons de cinzento da cidade (que se assume escura por herança
histórica) e um Sol que trespassa a cidade chuvosa em carris de ferro.
Um sol
chamado Carmo quando visto de costas e Batalha quando lançado sem freios pela
rua abaixo, pela calçada acima.
Perdemos
de vista o elétrico chamado (desejo) Sol na curva de Sá da Bandeira e
divergimos avenida acima à procura dos dragões e da origem do burgo.
Catedral
e D.Pedro, uma paisagem remendada pelas gerações de história, torres de
catedrais ou telhados de zinco, a evolução da história não foi uniforme, a
riqueza e a mediocridade em alternância com mentes brilhantes ou tempos de
penúria, sem apelo nem vontade.
Vista de
Gaia, a cidade velha é mais simétrica e menos remendada mas incomensuravelmente
menos humana, não se vislumbram os lençóis ao vento, os cheiros característicos
do mofo urbano que se impregna nas pedras encardidas a cada olhar, a cada passo
incerto, escadaria abaixo pelas vielas em direção à Ribeira.
A ver o
rio, (debruçados sobre a margem) vive um povo que aspira virar ao contrário o
curso da corrente do Douro, barragens acima, encostas envolventes de um verde
vinícola e se prolonga nas origens de um vale que se verteu para a cidade em
décadas de incontroláveis e imprevisíveis inundações.
Só as
gaivotas aproximam este microcosmos do mar latente!
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