A
noite, instala-se sobre o porto, para cá do mar revolto, numa agitação metálica
que se resguarda por detrás da intimidante vedação (metal afiado rompe o céu
sem cor) esbatida entre o escuro ou chuva que (ambas) esborratam as luzes de
tom industrial, amarelas como nos filmes, e nós sentimo-nos personagens
principais do primeiro episódio do Leixões Vice, “achas que podemos ser
sequestrados?”
Parece
mesmo um filme, pá!
“Aquele
mercedes tem gato”, imaginem um anel dourado, do tipo cachucho a sair do
automóvel no meio dos guindastes, e ele controla o movimento com um pestanejar
insensível, olhinhos de gangster que brilham no crepúsculo, como um reflexo dos
candeeiros que apenas servem de farol, sem foco nem claridade.
Afastamo-nos para a ponte metálica, a vista de
cima é melhor e o seguro morreu de velho…longe é sempre melhor que perto, não
vá o submundo estar de olho em ti!
E
se a ponte se levanta sem aviso, agora que passámos o torniquete de segurança,
debaixo de uma chuva promissora e de alerta máximo na cabine daquele monstro
mecânico, que permanece vazia e silenciosa…
Mas
ele lembra-se das histórias do Speddy Gonzalez, não há comboio visível no
deserto e, de repente, zás!
Entre
o porto e a cidade, novos avisos de que o Inverno é psicológico!
Cá
em cima o céu cinzento despeja adrenalina em estado líquido e o elétrico
(perdão, o metro) amarelo, compõe de cor o que a meteorologia insiste em nos
castigar de cinzento
Fechei
a janela do tempo – os entendidos dizem que fotografia industrial é entre o por
do sol e o nascer da (qual?) lua – e saltei da ponte antes que ela cedesse aos
ímpetos do lobo mau (o do Speddy, claro!)