Á entrada do fervilhante porto
de Bilbao, nasceu uma obra magnífica do pragmatismo na era industrial: uma
ponte que não é ponte mas funciona como tal sem estorvar o movimento de entrada
e saída de navios de grande porte no porto de Bilbao.
1893, uma aliança fértil entre
a arquitetura e a engenharia, o primeiro sinal de que Bilbao viria a ser, entre
outras coisas, vanguardista.
Esta ponte não foi única, mas
foi a única que se ousou reconstruir depois da destruição da guerra, com uma perseverança
obviamente digna de um monumento, hoje orgulhosamente Património da UNESCO.
E os habitantes de Portugalete
e Gexto continuam a usar o monumento como um objecto utilitário, que liga as
margens em um minuto, trezentos e sessenta e cinco dias por ano.
Orgulhosamente anunciado.
“ Se funciona hoje? Claro,
senão como poderia regressar a casa? " – o empregado do café de Gexto, um Portugalete
absolutamente assumido, tirou todas as dúvidas de que a ponte afinal era ponte.
O ferry (Air?) suspenso ou
basculante, atravessa com uma leveza de papagaio de papel, preso pelas costas
como um acrobata previdente e todo o movimento pode certamente ser explicado
pelos princípios da mecânica.
Nós, de certificado na mão,
subimos aos cinquenta metros de uma vista deslumbrante e atravessámos por cima
dos imaginários paquetes de luxo que já se sujeitaram à superioridade técnica
da ponte, abanámos a nossa adrenalina, quando a roldana do pássaro fazia
estremecer a passadeira e rendemo-nos ao vento norte que nos fustigava o rosto
e o nosso equilíbrio, que sentíamos permanentemente ameaçado – obviamente
apenas medo das alturas.
É uma sensação que supera
definitivamente meia dúzia de pintxos (tapas) ao almoço, regadas de duas cañas.
Constam as crónicas que a (longínqua)
família real deslumbrava-se como as crianças em voltas de carrossel de uma
margem para a outra!
Tão surpreendente quanto a
estrutura metálica – de um orgulho chamado ferro, a arte feita com os abundantes
recursos da terra, certeza de que a arte é também um reflexo da indústria – são
as margens, também elas com um atmosfera fim de século, que não pretendem
disfarçar.
Constam as crónicas que
emergiram como colónias balneares, e os espíritos dos elegantes veraneantes do
século XIX, moldam as fachadas das moradias, do pequeno hotel ao lado da ponte,
do varandim branco e dos candeeiros serenos plantados ao longo do passeio
fluvial, rio quase mar.
Apesar dos miúdos de piercing
no nariz que povoam este espaço, como seres completamente deslocados da
atmosfera ainda persistente.
Transbordador, é como lhe
chamam e, segundo Norman Foster, ilustre visitante, “é muito mais que as suas
componentes funcionais e estéticas. Assim mesmo nos recorda com carinho toda a
sociedade progressiva que suporta a cidade, determinada a criar, financiar e
edificar uma estrutura tão memorável, para satisfazer as suas necessidades de
transporte”.
Ele sabe, e nós acreditamos!
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