Á lupa, procurávamos a cidade europeia da cultura, mas a cidade da cultura parecia adormecida, não havia sinais da exuberância criativa dos novos e velhos mestres,
De mapa na mão, fomos à procura
da irreverência criativa e disruptiva mas demorámos a encontrar.
A antiga fábrica da Asa estava encerrada
para manutenção, vinte dias depois de inaugurada a exposição
O projetado Centro Urbis ainda
estava desfeito em obras, bem como a Plataforma de Artes e Arquitectura
Centro Vila Flor sim, esse estava aberto, visões abstratas de uma Guimarães fotográfica a espaços incompreensível, forasteiros que não se reconhecem das tradições da cidade que se vende como o berço de Portugal, preferiam as ruínas de um passado industrial glorioso, agora abandonado, infeliz falta de competitividade, que mostra as suas cicatrizes no centro da cidade, por entre vidraças estilhaçadas e bidões que ainda exalam os químicos industriais de outras eras.
Por vezes incompreensível, (é
fotografia ou arte?) mas definitivamente disruptivo.
Mas em Guimarães o passado
industrial ainda não foi invadido por espaços de vanguarda, uma cultura que se
apaixona perdidamente e se inspira loucamente nas atmosferas industriais
decadentes.
Aqui ainda sobra apenas a
decadência.
John Cage, um experimentalista
precoce que enlouquecia de riso uma audiência de engravatados em cores sépia, acabou
por se expor após o almoço no CAA, nova disrupção absoluta – obviamente um
espaço vazio gente, como todos os (outros) poucos abertos na cidade.
Prometiam uma sessão de 204
minutos de cinema, mas apesar do tema ser Beatles, não havia multidões de fãs
em histeria, ao longo do percurso da fama.
Mais do que um curto e incompleto
programa de sensações diferentes em exposição, ficou a certeza de que a única
ligação da cidade ao evento é o símbolo, usado pelo comércio local como se
fosse a bandeira de Vitória em dia de jogo, e um pretexto para construir obra!
Porque é que ninguém explicou a
alguém, que a cultura tem pouco a ver com obra feita (aliás demasiada dela por
acabar) nem asfalto nem cimento mas conteúdos, software (cultural, entenda-se)
inquietar uma cidade, incentivar a população autóctone a questionar valores
inabaláveis, mas dogmáticos, envolver os espaços públicos numa dinâmica
absolutamente irresistível...
Pouco claro?
É essa a natureza da cultura, são
sensações – mesmo que de repulsa
Aquele varandim dourado da praça
do Toural é uma peça muito irreverente, mas tinha de ser novamente hardware!
Como a bonita calçada da praça,
as árvores espetadas na calçada e um comboio desordenado de bancos de jardim,
que pareciam querer comunicar com os transeuntes, mas eles não queriam, nem se sentavam.
Aparentemente o pouco que ousaram
(falamos naturalmente da obra, não de cultura intangível) foi renegado pela
Guimarães profunda.
Talvez pela troca do verde pelos
materiais pesados / e por aí acho que têm alguma razão!
Guimarães é uma cidade património
sem mácula, muito interessante e um passeio à História com rigor e charme e
(agora também) com alguns sinais de inquestionável modernidade.
Mas no Sábado de Páscoa não foi
de todo uma capital (emocionalmente envolvida com a) da cultura.
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