Largos corredores de paisagem aberta que se alterna entre o castanho e o verde, em tons que escorrem pelas encostas onduladas do planalto transmontano, quebrado por laivos de escarpas agrestes e inevitavelmente desnudadas, árvores sozinhas no cume de todos os montes sem folhas como se adivinhassem que o inverno vai voltar e terminar o seu trabalho.
Estamos definitivamente em
Trás-os-Montes, em plenas vias rápidas do silêncio, que cercam, cruzam e
embalam este pedaço de país verdadeiramente diferente (absolutamente igual)
Esta é uma perspetiva externa (a
nossa), porque temos a sensação que regressámos a passado que desconhecemos, seria
o Portugal profundo se não estivéssemos tão perto da fronteira com Espanha.
Numa perspetiva interna diria que
a globalização não resolve os problemas essenciais dos transmontanos “esta
chuva é uma bênção” porque as barragens, as inúmeras minas de metais diversos e
os complexos agro industriais, nada parece ter resolvido os problemas deste
povo, tudo o que produzimos foi para consumo dos outros (mensagem panfletária
que nunca sairia da boca de um transmontano)
Até o centro comercial é um
insucesso, votado ao ostracismo deprimente de uma moda que não terá pegado, (aquele
visual bolorento pressente-se, mal as portas de vidro se abrem, neste decadente
santuário do consumo que foi afundado pela depressão, a vitória do cimento sobre
o vidro), vencido pelo comércio de rua que expõem a roupa e o calçado na rua,
na calçada – verdadeira montra viva por debaixo dos olhos e à mão – perto do
cliente, em horários de gente
Deglutido / digerido pela
autenticidade transmontana, pode ser que a modernidade aqui venha a ter um
sabor autêntico.
Não sei se as pessoas são felizes
na autenticidade, mas há toque absolutamente único para lá do Marão, que se
afirma na paisagem e nas gentes, que já perceberam que a vida começa neles
mesmo e pode terminar em quem os ajuda – mesmo que sejam espanhóis!
Não sei no que pensa a juventude
transmontana, pouco visível e exuberante, fico na dúvida se a modernidade, a autenticidade,
a tradição, a auto-suficiência e a juventude se compatibilizam num mundo global
do século 21
Em Bragança, em Miranda ou Mogadouro,
em Vimieiro e Montesinho ou nas dispersas aldeias que se atravessam nas vias
rápidas do silêncio, desertas em luto Pascal ou desertificação irreversível (?)
Afinal de contas Bragança é a
única capital de distrito que (ainda) não tem autoestrada
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