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segunda-feira, 17 de junho de 2024

As vozes da cidade

 


É o teu olhar, a forma como tu encriptas os enigmas da cidade, envolvendo-os em camadas de significados múltiplos. 
Close up focado na primeira linha do horizonte dos elementos congelados pelo tempo, uma flor de cores berrantes, um retrato, um cartaz ou um anúncio de momentos que já passaram ou mensagens que deviam desafiar a vontade eterna, nalgumas outras geografias, especiarias ou legumes com nomes e sabores que não nos lembram nada. 
E todos os movimentos dos restantes horizontes, desfocados como se, na fluidez do movimento, os pormenores e as linhas do rosto dos que não conseguimos tocar, fossem supérfluos para a história que consigo contar. 
Os primeiros planos de Madrid colam se nos postes, nos sinais de trânsito, nas luzes de iluminação pública, e revelam-nos angústia, desespero, grito de revolta, de alerta ou de vitória, porque não há padrão nas vozes de madrid
As mensagens escritas não permitem distinguir a entoação ou a intensidade e muitas vezes são vozes sem dono, uma geração espontânea de anarquia, por impulso. 
Não há padrão nas vozes de Madrid, apenas impulso, seja uma mensagem publicitária sem plano nem estudo de mercado, lugares de parqueamento para partilhar, o último espetáculo de flamengo de um artista obscuro, um show erótico numa cave estigmatizada de um bairro menos recomendável, seja um grito de protesto contra a violência sobre os animais, sejam de companhia, sejam de aviário. 
Mas respira-se uma liberdade sem fantasmas nos pilares da centralidade ibérica, mesmo que a multidão esteja demasiado atarefada para compreender as vozes da cidade.
Sempre com equilíbrio de brancos quente, como se não houvesse nunca Sol no nosso universo



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