Nychos é um artista de rua.
Famoso, ao que consta, até na
América ou nos museus, uma coisa tão estranha quanto a outra.
Nycho é um dissecador e estuda
Freud, mais propriamente estripa a mente dos pacientes, mas também aprecia
dinossauros e coisas assim.
Dizem os críticos, que converteu
a anatomia animal em beleza.
Passeia- se de manhã pela casa do
psicanalista ou pelo museu de todos os bichos, desenha muito no seu livro de
esboços, almoça no tradicional Landtmann e, pelas tardes fora, lança-se nas
paredes sobrantes do canal com um spray e revela-nos as visões de um filho de
caçador que desenhava ossos, crânios e músculos e que, mais tarde, iniciou-se
na arte de desventrar animais com sprays de tinta
Pelo menos assim parece naquele
espécie de documentário e filme descoberta.
Nychos, the weird, pretende
sintetizar a ideia da destruição criativa e da desintegração da sociedade.
Uma espécie de Schumpeter da arte
urbana.
Desinteressado da componente
imaterial da psique humana que, segundo o planeta solitário, pode ser uma forma
de descobrir a cidade pelos olhos de Freud.
Ou talvez um génio que representa
o intangível através de vísceras em movimento e cores sugestivas
(Sabem, apesar de polémico e
morto, o Sigmund será sempre um bom tema, apimentado, complexo)
E vivemos uma época muito
temática.
Juro que procurei o Nychos pelas
ruas mais esconsas do Naaschmarkt, pelas paredes do DonauKanal, mas só
encontrei os seus insípidos e furtivos discípulos borrados nas paredes.
Esta cena da arte urbana precisa
de tempo e tradição para que os marginais graffiters aprendam a desenhar e a
colorir e se tornem em artistas de arte urbana.
Na Viena de tradição monumental,
revivemos os tempos gloriosos das máquinas a vapor (obviamente uma metáfora
adaptável ao estado primitivo da arte urbana)
“Todos nascemos graffiters” –
lembro-me bem do prodigioso Ben Sloan, em roteiro informal pelos bairros
orientais de Londres e “foi com estes riscos experimentais e a fugir da polícia
que nos tornámos os artistas da cor, da irreverência e dotados de uma técnica
extraordinária”.
Neste entardecer de cores tímidas
e céu temperado de cinzento, as margens do canal estavam pejadas de tipos
forrados de compridos casacos pretos, boinas de lã ordinária, grandes bolsos e
sprays escondidos e as aparições de uma polícia vigilante que não se conforma
ainda com o lado sujo e de estética primitiva da imponência arquitetónica dos
mestres dos séculos XVIII e XIX.
E do Nychos, the weird, nem
sinal.
Alguém nos informou que estava a
dissecar a mente de Freud três quilómetros a Sul, nas paredes do canal do
Danúbio
E pareceu-me ouvir, lá de cima do
sky bar do moderníssimo Sofitel, uma numerosa orquestra a ensaiar os primeiros
acordes do Danúbio Azul
(numa versão mais moderna em que a cor predominante é o castanho)
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