Regressar ao centro da Europa é
sempre um regresso (muitas vezes involuntário) à história do século vinte, convulsivo,
violento, disruptivo e avassalador.
O século que desfez em cinzas as
grandes dinastias europeias e construiu, sobre cinzas e ruínas, uma qualquer
nova ordem, uma sociedade de cidadãos.
Pensamos hoje que este seria o
preço a pagar por uma nova ordem.
Explicam-me os livros que o
século vinte também foi o fim da linha para a opulência da dinastia dos
Habsburgos.
Setecentos anos de um
paternalismo que se confundiu com uma nação, um império de homens comuns.
Não resistiu a Bismarck, ao
suicídio do filho primogénito, à desastrada aventura mexicana do irmão
Maximiniano, ao assassinato do arquiduque, sobrinho e sucessor ao trono, em
Sarajevo
As grandes obras do regime macrocéfalo
do último século não foram suficientes para convencer as fronteiras do império
que este não era uma ambição legítima de um poder que se esvaia para lá das
fronteiras de Viena.
A grande obra da exposição
mundial de 1876, a grande rotunda que era maior que todas as estruturas de
ferro que os franceses jamais tinham visto, já se desfazia sobre os terrenos
alagados, ainda a exposição não tinha terminado, não resistindo ao passar do
século.
Francisco José morre em 1916,
encerrado no seu próprio palácio, porque se recusou a assistir ao fim do
império que, com o tratado de 1920 se transformou num estado inviável, refém da
sua própria capital.
Mas sobretudo porque a vida passou a acontecer muito para lá
das paredes dos palácios dos Habsburgos.
E quando no século vinte e um, a
Viena republicana mantém o esplendor imperial e se voltou a revelar a capital
de um estado viável, quando revela nas suas entranhas uma herança romana, quando
foi a última fronteira das ambições turcas na defesa dos impérios cristãos e
convive na história e no presente com o leste e a península balcânica, é um
espelho de centralidade da nova europa a vinte e seis, fala alemão mas não é
alemã e até se exprime em outras línguas com uma indisfarçável felicidade…
A Europa poderia perguntar porque
Viena não é a sua nova capital.
Sem certezas, eu diria que,
existe um insustentável sentimento de orfandade que transparece no olhar dos
seus vizinhos, agora aliados e, no passado, partes integrantes do império.
E provavelmente uma certa
inabilidade em escolher os seus aliados, nos séculos que nos precederam.
Não deixo todavia de pensar que
Viena é uma capital subestimada
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