Rua 42, Parque Empresarial da Baía do Tejo.
Um eufemismo dos tempos modernos
para localizar os despojos da Companhia União Fabril.
Como a ideia de transformar as
ruínas em circuito industrial.
Impressiona o silêncio e o vento
forte que vem do rio, porque a margem já não oferece resistência.
Impressionam os espaços vazios e
os edifícios de cores vivas que submergem a ferrugem das instalações
industriais que já não deitam fumo e que perdem com o tempo o encardido do
enxofre que, há muito, desapareceu do ar.
Impressiona o ar puro que entra
diretamente do mar, pelo rio adentro.
Não há praticamente espaços
apertados, ruas cercadas de muros altos e sem céu.
Impressiona a imensidão do céu.
E na rua 42, abriu por uns dias a
fábrica das tintas.
Mais um eufemismo dos tempos
modernos para caraterizar mais um novo espaço de intervenção artística nas
ruinas de um espaço industrial.
Uma nova liberdade, do género,
está em ruinas disponham do espaço, como se autorizássemos os vizinhos a
plantar no nosso quintal toda a anarquia que grassa nas nossas mentes
Under construction, referia conformado o agente do Bruno, o
fotógrafo, devia ser o agente pois tinha um forte sotaque italiano, enquanto se
debatia furiosamente com os plásticos negros que procurava fixar nas janelas
sem vidro, enquanto o vento desfazia as instalações, que era pressuposto
estarem instaladas.
A ideia de espetar pregos em cima
de plásticos pretos é boa, porque realça a tolerância que um espaço em ruínas
tem com o experimentalismo. Não há buraco que danifique um espaço como estes.
A hospitalidade neste espaço ( eu
gosto da hospitalidade destes espaços e do experimentalismo desta malta) crescia
à medida que a banca da cerveja se preparava para a noite da cena da margem com
o dress code “a tua cena” e lá fora uma autocaravana que parecia ser do
italiano, ele ainda não fotografou em Portugal, talvez agora ou depois e eu já
estava a imaginar que era naquela caravana que o Bruno iria para a Rússia,
fotografar ruinas de instalações industriais.
Palavra de agente de barba
desalinhada, cabelo encaracolado e voz enrolada pelo sotaque e pela dificuldade
em ler a mente do artista que, basicamente, andava por aí.
Pode ir ao primeiro andar mas
cuidado, não pise muito o chão, porque está líquido.
E não era sentido figurado.
Tratava-se de um líquido lançado
para o que restava do chão de tacos do primeiro andar que seria o escritório da
fábrica das tintas e a instalação tinha todo o sentido porque pretendia evidenciar
quão prematuros são os espaços e quão fluídos são os seus destinos.
Entre e veja o exercício de cor
que o artista criou na fábrica de tintas.
Quando voltar do primeiro andar
os diapositivos já estarão a funcionar e pode ver os diapositivos do Bruno.
E vi, sozinho, porque ninguém
para aqui vem, para este espaço fantasmagórico a não ser para beber ou dançar ao
som de um DJ underground e muita malta vestida de preto e de pelos ao vento.
E a noite era só mais logo.
E a noite era só mais logo.
Exceto eu, o segurança que me
introduziu no espaço pelo portão fechado das traseiras – bom, todas as entradas
são traseiras – o condutor da autocaravana, o franchisado do bar de campanha em
montagem, o puto dos folhetos (que tomava conta do Ipad que descrevia o making
off da instalação numero um), o agente do Bruno e mais dois latinos, de
nacionalidade variável, que espetavam os plásticos pretos nas ombreiras do que
teriam sido janelas.
Portanto, exceto eu, e um espaço
imenso para experiências e, o mais fantástico sem correr riscos de ser detido
por intrusão em espaços sem dono.
Ao abrigo das contemporaneidades
do espaço industrial
Adoro estas cenas!
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