Olha, NZ, neo nazi – e soltou um
riso alarve, apontando para a caravana estacionada no parque, do lado de fora
do vidro.
E com o riso, soltou os dentes
apodrecidos e despertou a atenção de quem se satisfaria apenas com um café,
tomado tranquilamente ao balcão
Afinal NZ era provavelmente uma
afirmação de identidade do proprietário da caravana, cuja matrícula bem podia
ser oriunda da Nova Zelândia.
Mas o espécime com raízes
jamaicanas e um sotaque de Alcântara pretendia certamente verbalizar a sua
irreverência estética numa frase com o mesmo impacto visual.
Mas não conseguiu, acentuando
apenas o aspeto de fora de época de Belém em vésperas de Natal.
Em frente, tão lá fora como cá
dentro, jazia o terminal de barcos, vazio de fechado, que gemia de ruídos
metálicos, provocados pelo batelão solitário que se contorcia de dores.
Nada convencional para um Sábado
de manhã cheio de Sol e de temperatura amena.
O NZ e todos os outros
caravanistas abriam as suas esplanadas próprias e almoçavam com vista para o
rio.
E o batelão gemia contra os
ferros.
E apenas alguns transeuntes se
exercitavam pela beira-rio fora, procurando sem êxito manter as rotinas de um
fim-de-semana de Sol junto à água.
E importante não esquecer um
grupo de polacos que prolongavam hoje as preces de uma primavera em Varsóvia.
Se não fosse o silêncio e o vazio
inesperado desta manhã, nunca teria reparado no barbudo de tranças frisadas que
tresandava disparate, nem nos caravanistas que tinham aqui chegado da NZ e que
almoçavam com os pés em cima do rio, nem nos pescadores de rio que, ao
contrário do que seria convencional numa manhã de Inverno, pescavam ao Sol, sem
impermeáveis que os protegessem dos, mais que prováveis, vento e chuva.
O rádio do bar de Verão,
anunciava trânsito intenso no Martim Moniz, na Avenida da Liberdade, na Avenida
Fontes Pereira de Melo, na…
Afinal de contas, não há nada de
não convencional neste silêncio dos solitários.
Por convenção é Inverno, logo
chove, logo ninguém passeia no rio.
Por convenção é Natal que, por
convenção, desperta uma fúria de presentes, avassaladora.
Logo, a cidade virou-se para as
avenidas e desprezou o rio.
Mesmo que o rio nos tenha
brindado com um azul de alegria e primavera, mesmo que o céu tenha despejado
sol sobre as margens
Afinal de contas, não podia ser
mais convencional o silêncio dos inocentes.
Se eu tivesse perguntado ao
barbudo – mas não perguntei – o que ele achava de menos convencional na
paisagem da manhã, talvez ele me tivesse respondido que é a forma como nós,
portugueses, procuramos contribuir para o aquecimento global, uma atitude
verdadeiramente irreverente em fim-de-semana de convenção do clima.
O presidente francês, o novo mago
do clima, teria certamente reprovado o barbudo jamaicano, por aquilo que ele
disse e por que aquilo que ele podia ter pensado.
Nuno, a 3ª fotografia é brilhante. Parabéns. Vou começar a seguir o blog com mais frequência. Bom trabalho! Abraço
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