A Ângela inverteu o acessório (o explicativo) com o principal, e foi através do vídeo que tornou clara a sequência de fotografias que acentua a monotonia.
O vídeo explicou a diferença de estados entre a metrópole cinzenta e esquecida e o ultramar vibrante e explosivo, onde em cada ensaio emergia uma inevitável dicotomia entre ocupantes e autóctones. A etnologia, uma visão cientifica e independente que se tornou, como se fosse por acaso, numa mensagem política. O vídeo e a fotografia em estados contrastantes. Depois de ver o vídeo, então percebemos tudo.
De uma simplicidade quase genial.
Por isso, provavelmente a Ângela ganhou!
E não resistimos em juntar a Ângela, o Edson e o Ayrson (magnifica instalação) numa composição única.
Afinal de contas, a arte é, antes de mais, conceptual.
“o júri
tomou uma decisão difícil, mas unânime, após longa deliberação, tendo em conta
a qualidade do trabalho de cada um dos artistas apresentado nesta exposição
coerente e intensa.
Uma
visita à exposição realça os aspetos deste forte e brilhante grupo de artistas.
O trabalho de Edson Chagas traz uma nova dimensão ao minimalismo, tal como este
é concebido no Ocidente, ao contextualizar os objetos no espaço e no tempo do
pós-colonialismo, afastando-se de uma abordagem altamente formalista e
estetizada.
As
suas fotografias, com diferentes dimensões, apresentam uma ligação subtil
conseguida através da linha de horizonte que se move de uma fotografia para a
outra, enquanto um filme projetado reflete as fotografias, trazendo um elemento
repetitivo de corrida e deslocação contínua de uma figura humana entre uma
extremidade e a outra do ecrã, com uma banda sonora que ecoa a vida noturna e
as ondas do mar, pontuada por um ritmo semelhante ao batimento de um coração,
que dá vida ao horizonte onde, de outro modo, a figura humana é esmagada pelo
espaço. A escolha do artista em fotografar o espaço no momento de silêncio, um
espaço que, de outro modo, está cheio de movimento e atividade dos flâneurs e
dos voyeurs, dos ébrios e dos amantes.
Passando
para o trabalho conceptual e altamente ritualizado de Ayrson Heráclito, somos
confrontados com uma performance representada numa instalação fotográfica de um
conjunto de dípticos na forma de duas formulações em L invertido. De novo, as
fotografias ecoam as semelhanças entre dois entrepostos esclavagistas
transatlânticos, onde o artista exorcisou uma história impregnada do legado de
violência infligido ao corpo negro no contexto do comércio de escravos
transatlântico. Os vídeos ressoam entre si ao apresentar um registo ou
representando o exorcismo através de um sistema de crenças africano ou da
diáspora africana. Heráclito traz-nos um trabalho novo onde a esfera privada é
representada como política, e onde a performance ritual é realizada com um
sentido de responsabilidade não só para com a história, mas para com uma
epistemologia onde o artista agirá como um sujeito e um objeto, com o ritual a
misturar-se com o conceptual.
No
contexto do trabalho da exposição, o júri foi unânime na atribuição do prémio
Novo Banco Photo 2015 a Ângela Ferreira pela sua peça A Tendency to Forget
(2015) concebida para a presente exposição, uma instalação multimédia
inquisitiva e baseada em investigação que reúne a fotografia, arquitetura,
escultura e imagem em movimento, pontuada por imagens de arquivo históricas num
trabalho altamente sensibilizado que desafia a nossa perceção do passado e nos
confronta com os fantasmas do contexto colonial e pós-colonial. O trabalho
recorda-nos o lado mais sombrio da modernidade, à medida que desvela o lado
oculto dos arquivos onde a artista joga com a tensão entre o visível e o
invisível, entre a presença e a ausência, e com o inquietante. Podemos ver a
leitura dos espaços como textos políticos através da revelação da cumplicidade
entre a antropologia e o colonialismo, entre o poder e a produção de
conhecimento que toma a forma de uma instalação escultórica minimalista que nos
move de um modo invertido para minar metaforicamente o arquivo”.
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