Subitamente, mal a serra invade o mar, o nevoeiro antecipa a noite e ninguém se parece importar com isso; os putos jogam à bola, os surfistas lançam-se nas ondas e a piscina, um oásis de azul que se realça no cinzento da paisagem, permanece intocável, nas águas serenas e transparentes daquele enclave, que reflecte as sombras coloridas dos chapéu-de-sol.
Hoje, desprovidos de qualquer
utilidade, abandonados nas margens das pistas olímpicas, jazem fechados,
contemplativos desta obra do regime, que se mantém de pé, com uma dignidade
épica, resistente às ondas do mar, aos persistentes nevoeiros que protegem a
paisagem dos caprichos imobiliários e das fantasias de um turismo embalado, às revoluções
e aos exílios dos refugiados da guerra pós-colonial, à moda de peles morenas
num sol raro que por aqui se instala, na vertente norte do cabo mais ocidental
da Europa.
Praia Grande, 1966 é, na
essência, a mesma de hoje, não fosse a loja / bar e restaurante que alberga os
surfistas, janelas abertas como se não houvesse inverno neste verão da costa,
com uma música que se ouve e que se dança, os brincos pendurados nas orelhas
dos transeuntes, os ecrãs LED que debitam ondas ruidosas dos ecrãs gigantes.
O anoitecer realça ainda mais
esta inconfundível afirmação da predominância dos elementos na paisagem.
Tão raro, quanto a chuva que
começa a cair, protegida do vento avassalador que varre o lado de lá do Cabo da
Roca.
Ainda há lugares assim, para quem
precisa de que a natureza agreste nos acorde das depressões terrenas!
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