A bolachuda cara de inglesa que,
na sua expressão de adolescente, penteia umas sobrancelhas de britânica de meia-idade,
segura um ramo de flores e esfrega o anel entre os dedos de esfinge (de
esfinge?), como um pãozinho sem sal que se recusa a entrar para o forno.
É uma cena de metro em dia de
feriado, sentada nos bancos corridos da carruagem, flanqueada por um namorado
sardento (ou seriam borbulhas?), que destoava da fauna multirracial mutante e
se inebriava com as flores e a namorada, como se fosse o último dos moicanos indígenas
numa cidade capital do mundo!
Mas nesta travessia subterrânea,
as antigas docas revelam-se ao céu azul mas gélido, à superfície de um subúrbio
deslavado mas de unhas sujas, mais britânico em ressaca tardia de uma imaginada
e longínqua revolução industrial.
E a bolachuda e o sardento perderam-se nos corredores escuros do underground londrino, enquanto nós nos atrevíamos a subir aos céus com a Emirates e as deslumbrantes cabines teleférico que nos transportaram sobre as grotescas e desmesuradas docas que abrangem toda uma ambição mercantilista de séculos, atraiçoadas pela tecnologia e pelos navios de águas profundas.
Tão imenso que parecia ligar-se
ao mar, conscientemente muito para lá do horizonte.
E aterrámos, devidamente
patrocinados pela bandeira do novo poder, em North Greenwich, no O2Arena, com
uma adolescente pela mão e os pés no ar.
Fui ao O2 Arena ver os One
Direction e, absolutamente bizarro, gostei
Estranha reação face a uma banda
de putos cercada de miúdas histéricas.
Pois é, mas numa sala com mais de
dez mil fãs, a cor, o som e os rapazes animaram a noite e roubaram-me o jantar
especial que tinha prometido a mim mesmo!
Cachorros e multidão em transe
ordeiro, não fosse esta uma civilização habituada aos holofotes da fama e do
sucesso comercial!
À meia-noite e na cidade já vazia
de som e vultos – e de lixo espalhado pelas bermas das ruas – uma raposa
atordoada atravessa sub-repticiamente a Crownwell Street, farejando o ar sem
cheiro em direção a sul, provavelmente enfadada pelo maçador e bucólico Hyde
Park em noite de presas curtas.
É nisto que dá uma excessiva
diversidade cultural!
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