É Sábado, e estão 26º na manhã
do vale estreito e profundo, rodeado de montes verdes e uma ria que serpenteia
para o mar, o feroz mar cantábrico, golfo da Biscaia que despeja tempestades
entre dois raios de Sol ibérico, único máximo múltiplo comum de identidade
assumida por este povo.
Mas Bilbao, escondida do mar e do ar por montes que a protegem de
olhares demasiado superficiais é uma cidade de frases fáceis e de atmosfera
quente.
À primeira vista, nada a
parece diferenciar de uma qualquer outra cidade espanhola: uma população
inteira que adora viver na rua, com toda a família, animais domésticos – perros de feitios diversos e tamanhos maioritariamente
de bolso, velhotes que se aperaltam mesmo de cadeira de rodas, almoços e
jantares em horas que não acabam, “Cenar? claro!”, uma gastronomia quase
obscena de sabor e preço e um permanente ruído de fundo de um povo que nunca se
cansa de (e tem sempre múltiplos motivos para) conversar.
Depois despertam as
diferenças: levantamos os olhos da calle
e a metros do vale, do centro, estão os campos verdes que ameaçam invadir a
cidade, o vale e a ria – uma chapa da Suíça -; nos semáforos nenhum peão
atravessa com sinal vermelho – disciplina e civilização que espantaria um
nórdico mesclado – e a mobilidade das encostas é de uma tecnologia germânica –
elevadores, escadas rolantes e funiculares que acompanham as ingremes calçadas
ou os suaves declives da malha urbana que tece o vale.
A alma Euskadi funde-se entre
estas duas dimensões: uma língua que é um código que se cultiva nas salas do
museu das Belas Artes, uma professora que explica os quadros de pintura
flamenga aos putos da escola, e as janelas pejadas de bandeiras Atlhetic – um clube
só de bascos que é muito mais do que um clube –
Basco é o código!
A caminho do Casco Viejo das
sete ruas, da Catedral e da Praça Nova, o moderníssimo mercado da ribeira
confunde os sentidos, peixe fresco e escadas rolantes, mas não desencoraja a
nossa descoberta da cidade antiga e viva, de tanto comércio e tapas e realça a
complementaridade em que vivem as diversas urbes desta cidade.
A ponte de Calatrava, qual
Puerto Madero, o metro de Gerry, e as torres de vidro que espelham a ponte na
outra margem, desafiam o antigo sem o ofuscar, nesta quarta dimensão (humana)
da cidade.
Em Bilbao vive-se uma permanente
metamorfose urbana, da poluente e industrial revolução para o design inspirado
na indústria – este jogo de palavras faz toda a diferença!
E Bilbao é mesmo uma cidade de
frases fáceis.
O Atlhetic não ganhou este fim-de-semana
e a cidade esmoreceu, mas não despiu as camisolas do clube, pela noite dentro!