Como
em todas as histórias, começa-se sempre pelo princípio.
E,
neste novo princípio, sobressai o domínio da natalidade e das novas gerações sem
memórias à flor da pele, mas com um enquadramento muito visual da História e
muito sensorial do presente, como algo que faz parte da nova construção.
Um
país de um catolicismo beligerante, do qual nascem muitas crianças, do qual se
espera que seja o útero de todas as revoluções em prol de uma nação conquistada
e do qual se espera um ódio santificado a quem lhes pode mal querer,
especialmente os vizinhos.
E
nas manhãs geladas da Páscoa de Varsóvia, são milhares os miúdos que se
espalham, entre as cores garridas dos seus blusões de Inverno, pelos símbolos
reconstruídas da ainda independente monarquia polaca, no museu do orgulho
judaico, antes da sua extinção, no museu do desespero e da revolta com uma
narrativa em que a galeria dos culpados se encontra em constante atualização.
E,
a estas crianças que já nasceram na Polónia, um grande país da Europa Central,
tudo é mostrado, sem filtros, porque não se pretende que esteja a crescer uma
geração de veludo
E
as multidões de natalidade pujante fazem uma fila no reconstruído palácio Real,
enquanto os adolescentes são induzidos a ter opinião em redor das peças de arte
contemporânea no CSW.
Memória
limpa, doses de crueza e sem interpretações alternativas do século vinte
polaco, e criatividade máxima para interpretar o presente e moldar o futuro.
Mais
tarde no dia, junto ao Vístula, nasce uma nova modernidade que alia o
pensamento científico e universitário, a arquitetura vanguardista, a moda e o
design de autor, uma marca definitivamente cosmopolita e ocidental que flui,
rio abaixo, em direção à cidade museu.
Melhor
que uma marca cosmopolita e ocidental, assim pensa um povo que cresce com
jovens disciplinados, focados e com uma visão única do que não pode voltar a
correr mal com a nação, muito competitivos e crentes que o ocidente tem uma
divida por pagar, e com uma natalidade muito favorecida pelo catolicismo
militante, tão divergente da europa envelhecida como o seu crescimento
económico.
Nunca
descobrimos a razão do ruído das mulheres que brindavam com champagne nos Três
Toros, mas certamente preferem a sofisticação de uma auréola internacional com
sotaque catalão e brisa do mediterrâneo, às sopas forradas de pão e às
fotografias saturadas de guisados de uma gordura que se impregna nos
restaurantes de uma rústica polónia que jazem, vazios, na cidade velha – que,
afinal de contas, não é velha.
À
noite, nos bares de Vodca da capital gelada e tardia ou em Cracóvia onde se
respira cerca de vinte e dois graus de aristocracia poupada pela guerra,
descobrimos, após um jantar de carne alemã regada de vinho francês, descobrimos
o vodca com sabor a mel e estamos decididamente a entrar no universo autorizado
da criatividade máxima para interpretar o presente e moldar o futuro.
O
Vodca com sabor a mel é uma imagem expressiva do que os polacos pretendem do
seu futuro, sofisticado, com sabores fortes, mas frutados sem mascarar o
essencial, o facto de se tratar de uma bebida com 40º de álcool.
Um
país à beira do Vístula apenas a cento e trinta quilómetros da guerra.
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