“O progresso não é linear e, em cada momento, haverá sempre locais onde
as coisas estarão terríveis, mas sim, acredito que as coisas vão correr bem no
futuro”
No centro da cidade moderna, não muito longe do bairro francês, a experiência
gastronómica no Bún Chà Hu´o`ng Liên, não foi
especialmente inesquecível, o Bún Chà, um caldo de peixe onde carne de porco
grelhada jaz afundada entre noodles, vegetais e outros sabores intensos e uma
persistente gordura não se deixam vencer pela cerveja de Hanói.
Mas partilhar o restaurante com a vontade de Obama, de cerveja na
garrafa e de paus na mão que pescavam os noodles do caldo, de fazer as pazes
com os seus inimigos, marcou a nossa memória futura, muito mais a lembrança das
fotografias do presidente, a única referência humana nas enormes paredes de
azulejo branco de cantina, um espelho da frugalidade socialista ou do
verdadeiramente essencial, a comida, até a visita de Obama.
Para além da
promoção gratuita do maior influenciador possível (um influencer que não dança
no TikTok em vestes reduzidas ou outras histórias) para a família proprietária
desta cadeia de restaurantes de Hanói, especializada em caldo de carne de porco
assada - para simplificar - almoçar na mesa do Obama ( ou no mesmo andar de
Obama, porque o restaurante é composto por seis salas em seis andares
diferentes), provavelmente o último dos estadistas, numa das suas últimas
viagens de estado em que reconhece sem pudores que provavelmente nenhuma
divergência ideológica profunda justifica uma guerra, napalm, milhares de
mortos um país destruído e uma geração de traumas e, sem subterfúgios. que não
assistia qualquer razão a eles para considerar os vietnamitas seus inimigos.
Longe dos
palácios oficiais do mesmo regime que combateu, o príncipe americano encontrou
a melhor forma de pedir desculpa pelos excessos de imperialismo, diretamente ao
povo, sem os intermediários do partido.
Na esquina oposta ao Bún Chà de Obama, Ho Chi Min desenhado na parede do prédio
afaga a cabeça de uma criança e aprova condescendente a manifestação de afeto
do novo amigo americano, a sua origem afro americana também ajuda à compreensão
do grande líder, que desde sessenta e nove paira no imaginário ressuscitado do
povo vietnamita. O primeiro grande herói americano da Indochina, é preciso não
esquecer que ambos tinham um inimigo comum assumido, os japoneses, e outro
menos assumido pelos americanos, os franceses.
No Bún Chà Hu´o`ng Liên, e olhando para as memórias de
parede, entendi que o tempo é o maior elixir da paz.
Senti a falta de um amigo americano como este, internacional, defensor de um
passaporte para cada americano para que eles percebam que o ser humano anseia
basicamente pelas mesmas coisas, em todo o mundo.
E no fim do almoço, pagámos na caixa, à porta da rua, sem
talão nem necessidade de tradução.
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