Há momentos em que as memórias longínquas
submergem, adormecidas, com uma nitidez que já tínhamos esquecido.
Os figurantes de um passado
trancado reaparecem-nos numa ocasião festiva, ou num qualquer cortejo fúnebre
e, de repente, despejam-nos um turbilhão de imagens de uma outra vida que um
dia vivemos.
E, nesse momento, apenas nesse
momento, parece-nos impossível que aqueles seres de quem fantasiamos passados
sejamos nós, e eles sejam eles.
E este passado longínquo submerge
a coerência da nossa história, construída a partir desse passado, em ondas de euforia
que nos leva a tratar as memórias por tu, em respeito às cumplicidades, como se
o passado tivesse sido uma linha contínua, mas depois sobram peças, quebra-se a
conexão entre estas duas vidas, como um castelo de cartas construído sem fundações,
foram mais os anos que passaram do que aqueles em que vivemos um espaço onde só
havia futuro.
Quando só havia futuro.
Estes momentos são raros, mas
relativizam a nossa perceção de imortalidade.
Mas, na noite do ano novo, fiquei
com a sensação que, cada uma das primeiras cinco passas, tinham mais de uma
década.
E, quando nos tornamos mortais,
temos uma certa tendência para romancear os excessos da nossa imortalidade juvenil
Também é verdade que, nessa
noite, bebi muito pouco álcool.
E isso não ajuda
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