Sentado na relva gasta de Primrose
Hill, tão pequena quanto a pequena sereia, oh quão londres és baixinha,
lembrei-me do desabafo do boring charles dalguns anos atrás acerca do destino
da sua real cidade, reclamando o direito de indignação pela transfiguração da
old City e do que a seguir se adivinhava.
E até percebo o pobre Carlos. A
densidade dos guindastes não para de crescer e, só quando nos afastamos um
pouco (uns poucos metros para cima), nos damos conta da fúria devoradora do
vidro e do betão que procura, numa corrida desenfreada contra o tempo, apagar o
tijolo vermelho e a tradição vitoriana da capital do império.
Antes que alguém os obrigue a
parar!
E nunca a cidade esteve tão
vibrante, nunca a libra esteve tão forte, nunca a economia esteve tão próspera,
mas esta visão dos guindastes que povoam a paisagem como antenas gigantes, a
vulgarização, vista dos céus, dos símbolos da história da cidade, agora cercada
por símbolos de novo poder fálico (ah, pobre charles, a torre fálica acabou com
a tua esperança) deixa transparecer (de uma forma muito ténue, reconheço, mas
na relva de Primrose as ideias até ganham uma forma verde) alguns sintomas de
bolha.
E, algumas horas mais tarde,
quando o Ben Slow nos transporta para as entranhas da Shoreditch acossada, Charles e
Ben intersectam-se no desconforto, a realeza e o artista radical procuram
cercar o poder financeiro que avança no seu vidro resplandecente como um
titanic sem respeito pelos icebergs.
Bom, uma imagem um bocadinho
figurada demais, talvez
Mas a sensação (da qual rapidamente
me esqueceria, não fossem as notas no livro azul, porque está sempre a
acontecer tanta coisa, por aqui, na ilha mágica que, a cada minuto, um novo
deslumbre derruba todos os sinais de apreensão) de que um dia estes tipos
começam a navegar sozinhos pelo Atlântico fora, numa reinterpretação
anglo-saxónica da jangada de Saramago.
(daí a metáfora do titanic e dos
icebergs)
E ficam tão ridiculamente ricos,
que deixa de lhes dar prazer a companhia do resto da pobre (e relativamente
deprimida Europa)
E lembro-me que a paz dos últimos
setenta anos, no sacrossanto espaço ocidental europeu se tem feito de equilíbrios,
de túneis da Mancha (é verdade, não previ o rebentamento do túnel quando a
jangada se libertar da placa europeia, mas libertando-se deixaria de haver
acusações de quem tem a responsabilidade de o guardar o que, só por si, é uma
ideia idiota porque o túnel fez-se para ligar e não para filtrar) …e de
solidariedade!
Afinal fiquei contente por ter
tomado notas no livrinho azul e não estou nada arrependido de ter gozado de
todas as borlas exóticas do novo capitalismo inglês
Afinal em que ficamos?
Charles, oh Charles!
Sem comentários:
Enviar um comentário