Em 1985, era apenas um rapaz
conterrâneo, apenas uns vinte lugares mais dotado que eu, capaz de conquistar
um segundo prémio entre os aprendizes de feitiçaria.
Trinta anos depois, este conterrâneo
descomprometido, um cidadão dos quatro lugares da história alterou, num único
livro, toda a nossa perceção da História, aprendida com o fervor de um crente
nos compêndios juvenis do Estado Novo.
E não é a Rainha Ginga –
ostracizada pela História de Portugal - a maior das surpresas, porque já
sabíamos que ela vendia escravos para os engenhos do Brasil. Mas o que
duvidávamos era que a escravatura na fonte não fosse uma questão de pele, antes
um castigo ou o destino dos derrotados das batalhas.
Angola e Brasil, portugueses a
soldo dos espanhóis e os libertadores flamengos.
O mesmo percurso do escritor que
provou que havia muito mais povos do que os conquistadores e que os impérios se
construíam, conquistavam e destruíam principalmente com os mestiços: cristãos
convertidos em muçulmanos, ciganos, índios, piratas, os aventureiros e os desaventurados
E que o Santo Ofício era uma
espécie de macaco que, aflito por ver um peixe, sem e braços e pernas, mergulhado
na água lodosa do rio, muito aflito o quis ajudar e assim o tirou da água, e
muito contente ficou quando o viu saltar de alegria nas margens do rio.
Entre outras, e menos inocentes
barbaridades.
Mas assistir ao renascimento dos
Holandeses como os libertadores da opressão católica, no Pernambuco ou em
Luanda, um povo descontraído, liberal e que não recusava abrigo a ninguém
(para além de albergar no grande
seio da companhia da Índias, todos os piratas que fossem bravos e temíveis)
deixou a minha juvenil crença de que os maus da fita eram os
espanhóis, muito abalada!
A imagem do padre português (aliás
assado, à revelia, na fogueira de Lisboa) ao regresso à sua Olinda natal em
cinzas, após a conquista dos Holandeses, ladeado pelos ciganos fugidos de
Angola que lhe afirmavam, perante tal destruição, “cheira a cinzas e cheira a
fome, mas já não cheira a medo” (mais ou menos assim) foi fulminante.
Apesar de tudo, a Rainha Ginga é mais
um livro que morre nas mãos de um tipo de mente aberta, em pouco mais de um fim-de-semana!
E depois, há sempre formas de
retemperar o nosso orgulho ferido.
E no Sábado á tarde fui a procura
dos fortes do Império, plantados à beira-mar!
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