“Youth of Athens” é apenas o nome
de uma exposição.
E a atualidade despertou em mim semelhante
urgência quanto o anúncio do último dia...
Da exposição, claro!
Por isso abandonei
precipitadamente o trabalho, ainda era quase dia.
Além de que, último dia rima com
Grécia!
Em vertigem.
E pressentia algo de grandioso,
sem ter a certeza se seria da atualidade ou da história.
Mas “Youth of Athens” é apenas
uma exposição pequenina, com um vídeo pequenino de entrevistas rápidas a jovens
menos trinta, escolhidos – diria – por acaso
O único múltiplo comum da história
é a PlaKa de Atenas, uma Babilónia semeada de prédios brancos sem preocupações
de estética, que se contentam – e já não é pouco - em albergar o frenesim da
vida grega que, em Atenas, tem uma atmosfera muito kasbah, imagens repetidas do
oriente próximo, de Istambul até ao Cairo!
E os miúdos, desfilam perante a
câmara, nos terraços de Atenas, emergindo do cogumelo branco, todos com vista
explícita ou implícita sobre o esplendor destruído da Antiguidade Clássica,
numa pretensa invocação da sabedoria dos deuses passados, mas algo pateta!
Muitas palavras, para tão poucas
imagens
E não gostei do prefácio do
senhor embaixador e a mensagem desesperada à união europeia “parem de comer os vossos filhos porque não
há futuro sem eles”
E as entrevistas prosseguiam: a
jovem estudante com um bebé que dançava num bar para pagar as contas, um jovem
empresário otimista que exportava aplicações para telemóvel, um músico de rua
que jurava que vivia onde sempre quis viver, a bióloga que admitia emigrar
depois do doutoramento e uma marketeer de piercing no lábio afirmando a sua
identidade, história e fidelidade à sua herança.
Sem critério nem coerência
especial
(Mas imagens que captavam a atmosfera, sejamos justos)
Todos nós já tivemos vinte anos e
faz parte da natureza dos putos de vinte anos serem inseguros, desconhecerem o
que o futuro lhes reserva, terem sonhos, terem medos e uma enorme dificuldade
em construir cenários de futuros coerentes
Eu já tive vinte anos em Atenas e
os jovens de Atenas tinham a mesma tez, o mesmo olhar obstinado, o mesmo
idealismo indecifrável, uma mescla não resolvida de sangue ateniense e espartano.
E Atenas era uma Babilónia
infernal, como se tivesse atraído para o seu vale sufocante e poluído, Beirute,
Cairo e Jerusalém, todas cercando a arruinada (mas fantástica) Acrópole.
Eu já tive vinte anos em Atenas e
discutíamos o futuro da Europa como se fosse o último dia e éramos todos
significativamente mais pobres.
No terraço dos prédios brancos
sem preocupações estéticas, onde dormíamos em monte, debaixo das estrelas e do
calor do mediterrâneo. E o chão duro era apenas a recompensa de acordar sobre
os terraços da cidade e sentir os cheiros do oriente e o frenesim de um povo em
agitação permanente.
E já fui juventude feliz em
Atenas!
E (só) conheciam (os) o Drakma,
notas coçadas de uma imponência aristocrática, concebidas com orgulho e sem
preconceito de ser o berço da civilização ocidental. Mas sem grande valor!
Então porquê intrometer o Euro nesta
angústia?
Neste prisma, então teríamos de
assumir que já os Romanos comiam os jovens de Atenas. E uma revisão cuidadosa
da História, levar-nos-ia a concluir provavelmente que havia outras causas.
(e que os romanos até tinham
karma)
Portanto, pequenino este pedaço
de realidade.
Prefiro gritos de revolta em
grande estilo.
Por isso, esperamos por ti, numa
manhã de nevoeiro de Abril, grande Sebastião (Salgado) em Genésis!